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ABC e capital divergem

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Por Redação
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Cedendo a pressões, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que reúne sete prefeituras, desistiu de impor restrições ao trânsito de caminhões nos horários de pico, planejadas desde setembro e que deveriam entrar em vigor no próximo dia 28. O motivo alegado é que isso seria prejudicial à indústria ali instalada, ainda mais em uma fase de desaquecimento econômico, podendo afetar até a oferta de empregos. Ninguém desconhece as graves deficiências da infraestrutura de transporte no País, mas não é certamente por tentar ordenar o trânsito de veículos pesados em uma área densamente povoada, como é a região metropolitana de São Paulo, com 20 milhões de habitantes, que se criam problemas para a indústria.A fixação de horários para tráfego de caminhões, tirando-os das estradas que cortam as áreas urbanas e das ruas e avenidas, nos horários de "rush", pode gerar alguns custos para as empresas, mas eles serão consideravelmente reduzidos se for adotada uma programação para a carga e descarga de mercadorias. De qualquer forma, resta demonstrar que esses custos adicionais seriam muito maiores do que os provocados pelo congestionamento do trânsito desde as primeiras horas do dia até a noite, causando problemas não só para as empresas industriais e comerciais, como para milhões de pessoas que circulam diariamente pela área metropolitana.O tema deverá ser debatido no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano do Estado, que é o foro adequado, uma vez que a atitude do Consórcio está em desacordo com as decisões tomadas pela Prefeitura de São Paulo nos últimos anos para limitar o trânsito de caminhões pesados na capital. Com a conurbação entre São Paulo e as cidades vizinhas, essa divergência pode vir a causar problemas operacionais de tráfego e - tão importante quanto isto - revela como ainda é difícil estabelecer diretrizes comuns para as regiões metropolitanas.Como assinala o prof. Jaime Waisman, da Escola Politécnica da USP, "caminhões rodando pela cidade o dia todo, em todos lugares, é um fenômeno brasileiro. É algo do século passado. Atualmente, você vai às grandes cidades do mundo e não enxerga caminhão trafegando pelas ruas". Lamentável não são só as prefeituras do ABC que demonstram não ter plena consciência das responsabilidades que lhes cabem como parte da região metropolitana. A Fiesp e os sindicatos de trabalhadores que apoiaram aquela decisão não parecem se dar conta de que as restrições aos veículos pesados são apenas o início de um processo de disciplinamento ao qual as metrópoles têm forçosamente de submeter-se.Sem dúvida, há muita coisa a ser feita na área de transporte na Grande São Paulo, mas, como mencionou o prefeito Gilberto Kassab, as recentes restrições ao trânsito de caminhões pela Marginal do Tietê fazem parte da concepção do Rodoanel. "Daqui a uns dez anos, quando o Rodoanel estiver totalmente completo, essa medida irá se ampliar", disse ele, prevendo total proibição, durante o dia, da circulação de veículos de carga, salvo aqueles vinculados à construção civil, disposição de lixo e atendimento a hospitais. Nos demais casos, o transporte será feito tarde da noite ou de madrugada. Constata-se hoje que a limitação imposta à Marginal do Tietê tem encontrado grande aceitação por parte da população, com redução significativa do trânsito nos horários de pico nessa via, embora tenha aumentado muito o fluxo de caminhões nos horários em que sua circulação é permitida, o que é natural em um período de transição. Mas é totalmente improcedente a alegação de caminhoneiros de que não têm onde estacionar e, por isso, deixam seus veículos no acostamento nos últimos quilômetros das rodovias, nas proximidades dos acessos à Marginal, ficando à espera para poder ir adiante. Cabe às empresas de transporte e aos caminhoneiros providenciar garagens ou estacionamentos como parte de seu próprio negócio.Casos como esses indicam a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa por parte das Polícias Rodoviárias.