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Abismo social nas cidades

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Por Redação
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Pelo menos até 2010, a melhoria das condições de vida dos brasileiros mostrada em estatísticas de renda, emprego e condições de moradia não havia chegado às favelas. Persistia um grande abismo social entre os moradores das favelas e os das demais regiões das cidades em que elas estão instaladas. Eram 11,4 milhões de pessoas vivendo em 3,2milhões de domicílios particulares precários, que não obedecem aos padrões e às exigências do planejamento urbano, de acordo com pesquisa que acaba de ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo Demográfico de 2010.Existem no País 6.329 aglomerados subnormais, denominação que o IBGE utiliza para se referir a assentamentos urbanos irregularidades, com pelo menos 51 unidades habitacionais, como favelas, terrenos invadidos, vilas, mocambos ou palafitas. Esses aglomerados estão instalados em 323 municípios, predominantemente nas Regiões Sudeste e Nordeste. A maior parte da população que ocupa esse tipo de habitação vive nas regiões metropolitanas.A Grande São Paulo tem 596,5 mil habitações precárias, onde moram 2,16 milhões de pessoas. Destas, cerca de dois terços vivem na capital. Guarulhos abriga 10,7% da população que vive em favelas na Grande São Paulo, seguindo-se Santo André e São Bernardo do Campos (cada um com 8% do total) e Osasco (3,9%).Além de viverem em condições piores, os moradores das favelas ganham menos, têm nível de instrução menor e estão mais sujeitos ao trabalho informal, com menos garantias e com remuneração menor, do que os demais habitantes das cidades. Bens que caracterizam a vida moderna, como eletrodomésticos, computadores com acesso à internet e automóveis são menos presentes nas favelas do que nas demais áreas.A informalidade no mercado de trabalho caiu nos últimos anos - como comprova o aumento mais rápido da arrecadação de contribuições sociais vinculadas ao trabalho formal do que o crescimento da renda média dos trabalhadores -, mas caiu menos entre os habitantes da favela. Entre estes, 27,8% dos trabalhadores não tinham carteira assinada, índice que cai para 20,5% entre os trabalhadores de outras áreas da cidade.A disparidade de renda entre os moradores das favelas e os demais habitantes é ainda mais ampla. Enquanto 31,6% dos moradores dos aglomerados subnormais tinham rendimento domiciliar per capita de até meio salário mínimo, nas demais áreas da cidade o porcentual se reduzia para 13,8%.Também o acesso à educação mostra a diferença entre as condições dos moradores das favelas e as dos demais habitantes. Enquanto 14,7% dos moradores de habitações regulares tinham concluído o ensino superior, entre os moradores dos aglomerados subnormais o índice era de apenas 1,6%.Em geral, os moradores das favelas gastavam o mesmo tempo que os demais moradores das cidades no deslocamento entre a residência e o trabalho. Entre os primeiros, 19,7% gastavam mais de uma hora diariamente no deslocamento para o trabalho; para os demais, o índice era de 19%, praticamente o mesmo. Curiosamente, no Rio de Janeiro, 21,6% da população dos aglomerados levava mais de uma hora para chegar ao trabalho, enquanto nas outras áreas a proporção era de 26,3%. No Rio, com a ocupação de encostas ao longo da cidade, os moradores puderam se instalar perto de seu local de trabalho.Já em São Paulo, onde a ocupação irregular ocorreu em áreas mais distantes do centro, a proporção se inverte. Os conhecidos problemas de deslocamento na cidade prejudicam todos, mas afetam mais os moradores dos aglomerados, dos quais 37,0% gastavam mais de uma hora para ir ao trabalho, porcentagem que se reduzia para 30% entre os demais habitantes da cidade.A persistência de um grande número de pessoas que vivem em condições precárias e enfrentando mais dificuldades que os demais cidadãos mostra que as políticas públicas para essa faixa da população não têm produzido resultados na velocidade necessária para aliviar o sofrimento delas.