27 de dezembro de 2011 | 03h06
O congestionamento se espalha pelas ruas estreitas da região. Aos milhares de veículos somam-se ônibus fretados que param em fila dupla diante das empresas e disputam com os ônibus do sistema formal os pontos de embarque e desembarque. A decisão da Prefeitura de organizar os fretados não está sendo respeitada e em vias como a Avenida Luís Carlos Berrini os ônibus tomam todas as faixas. A desorganização afeta também a Marginal do Pinheiros.
A Prefeitura defende seu projeto de verticalização com base em planejamento feito há 16 anos, quando a Operação Faria Lima foi lançada pelo então prefeito Paulo Maluf. De um total de 1,3 milhão de metros quadrados que poderiam ser construídos na região, 890 mil foram utilizados.
Segundo o diretor de Legislação Urbana do Sindicato da Habitação (Secovi), Eduardo Della Manna, o adensamento da região não terá grande impacto no trânsito, porque ela recebeu duas estações de metrô - Pinheiros e Faria Lima. "Acho que a área, que até agora foi ocupada por prédios comerciais, vai receber mais empreendimentos residenciais e as pessoas vão ficar mais perto do trabalho", explica.
Planejamento urbano não se faz com "achismos". Exige estudos precisos. Certamente não é grande a parcela da população que tem condições de comprar apartamentos nesses sofisticados edifícios, erguidos numa das áreas mais nobres do Município. Dificilmente quem vem das periferias das zonas sul e oeste - talvez a maior parte dos trabalhadores daquela região - pode adquirir uma nova moradia ali.
Um projeto de quase duas décadas atrás, nunca atualizado, não pode servir de base para aprovação de tal adensamento. Por exemplo, se foram feitas projeções sobre o crescimento da frota de veículos de São Paulo em 1995, o mais provável é que elas ficaram aquém da realidade. O País e a principal cidade brasileira passaram por mudanças profundas na última década, quando a indústria automobilística bateu sucessivos recordes de produção.
Os administradores municipais só parecem pensar nos R$ 2 bilhões que os 500 mil Certificados de Potencial Construtivo poderão trazer para os cofres públicos. Esses títulos permitirão a construção dos 410 mil metros quadrados além do que estabelece a Lei de Zoneamento na região da Avenida Faria Lima. O volume é praticamente o mesmo negociado nos últimos dez anos nos leilões da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, um instrumento criado para revitalizar regiões das cidades com investimento da iniciativa privada que, em contrapartida, ganha o direito de construir área adicional à permitida.
A Operação Urbana Faria Lima foi a primeira a ser aprovada em São Paulo e, desde o seu início, sofreu críticas de urbanistas por causa do desacordo entre o que foi planejado e o que tem sido executado. A área construída se multiplicou, os cofres da Prefeitura se encheram, mas a população não recebeu as melhorias prometidas: continuou sofrendo os mesmos problemas dos bairros adensados descontroladamente.
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