
20 de outubro de 2013 | 03h10
Além de entrar em moratória, o governo dos Estados Unidos, fechado parcialmente desde o começo do mês, por falta de orçamento, seria forçado a um corte de gasto desastroso para o país e para a maior parte de seus parceiros.
Mas a trégua apenas abre um intervalo para uma negociação mais ambiciosa e de longo alcance. Sem orçamento definitivo, a administração poderá gastar normalmente até 15 de janeiro. Em 7 de fevereiro será preciso rever o limite da dívida.
Mantida a incerteza, um dos principais estimulantes da economia americana, a injeção mensal de enormes volumes de dinheiro nos mercados, poderá perder eficácia, advertiu Richard Fisher, presidente do Federal Reserve (Fed) de Dallas, um dos braços do banco central.
O Fed pode fornecer o combustível, disse ele, mas é incapaz de "mexer nos motores do emprego", se faltar uma clara definição da política fiscal e os empresários ficarem no escuro.
Desta vez, pelo menos alguns líderes republicanos parecem dispostos a algum esforço para evitar uma nova queda de braço à beira do abismo. O prestígio do partido e de vários de seus líderes foi danificado seriamente pelo impasse das últimas semanas, segundo mostraram pesquisas divulgadas diariamente. As perdas para o presidente Barack Obama e seu partido foram bem menores.
Além disso, dois negociadores, a senadora democrata Patty Murray e o deputado republicano Paul Ryan, começaram a trabalhar para produzir um acordo sobre o orçamento até o meio de dezembro. Nada garante seu sucesso, exceto, talvez, o temor de um desastre político muito custoso.
O impasse de outubro custou US$ 24 bilhões à economia americana, segundo estimativa da Standard & Poor's. É um valor considerável, mas os dados potenciais de um desacordo mais prolongado seriam imensamente maiores para os Estados Unidos e para o mundo. A economia dos Estados Unidos vinha crescendo com firmeza, apesar da velocidade ainda moderada, e mais empregos vinham-se acumulando a cada mês.
Esse dinamismo foi uma das melhores novidades para os mercados globais em 2013. Embora a zona do euro tenha começado a vencer a recessão, a recuperação dos países da área ainda será muito lenta pelo menos por mais um ou dois anos. Enquanto isso, a maior economia do mundo continuaria retomando seu papel de grande motor da atividade global - novidade especialmente importante diante da esperada perda de impulso da China e de outros emergentes.
A economia chinesa continua no pelotão da frente e exibiu crescimento anual de 7,8% no terceiro trimestre, mas a tendência, segundo analistas, é de acomodação no fim deste ano e ao longo do próximo.
Se tudo correr bem nas novas negociações de Washington, o mundo ainda será forçado a acompanhar com muita atenção os desdobramentos da política econômica nos Estados Unidos. Com a consolidação do crescimento, o Federal Reserve poderá finalmente abandonar, de forma gradual, a injeção mensal de até US$ 85 bilhões nos mercados para estimular o crédito, os negócios e a criação de empregos. Nesse caso, todos serão forçados a se adaptar às condições de um mercado financeiro global mais apertado, com juros mais altos e critérios mais duros de aplicação de recursos.
Essa mudança deveria ser mais um estímulo para o governo brasileiro se preocupar com a saúde das finanças públicas e com o poder de competição dos produtores nacionais - item essencial para a restauração das enfraquecidas contas externas. Talvez se cuide disso em Brasília, se as eleições permitirem.
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