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Além da convalescença

O mercado estima o crescimento em 0,43%. Se confirmado, ainda será miserável

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Por Redação
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As bolas de cristal do mercado financeiro ficaram ligeiramente mais luminosas, nos últimos dias, e elevaram de 0,4% para 0,43% o crescimento econômico estimado para este ano. Se os fatos confirmarem a projeção, o resultado ainda será miserável, embora menos deprimente que a expansão de 0,2% prevista pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Não será o caso, é claro, de celebrar com champanhe de primeira linha, embora qualquer número positivo seja muito bem-vindo depois de uma contração de mais de 7% nos dois anos anteriores. Além disso, a melhora do cenário desenhado para 2017 inclui uma nova aposta sobre a produção industrial. A expectativa passou de 1,26% para 1,36%, neste ano, e de 2,28% para 2,5%, no próximo. Não se poderá falar de efetiva recuperação da economia brasileira sem uma firme reativação da indústria. Mas essa reativação mal começou e, no balanço geral, o estado geral da economia ainda será de muita fraqueza em 2018. Como ir além de uma convalescença medíocre é agora a questão mais desafiante.

Mediocridade poderá ser a marca do próximo ano em mais de um sentido, se for confirmada a atual previsão de crescimento econômico de 2,5%. Além de modesto, esse desempenho será facilitado pela enorme capacidade ociosa da indústria, de cerca de 30%, em média, pelas últimas avaliações de economistas do setor. Se houver algum impulso, o Produto Interno Bruto (PIB) poderá aumentar, por algum tempo, sem novos investimentos empresariais. Ocupada a capacidade instalada, nem a pobre expansão de 2,5% se repetirá, nos anos seguintes, se o estoque de máquinas, equipamentos, instalações industriais e infraestrutura seguir como está.

A produção poderá até ir além dos limites, por algum tempo, mas o esforço resultará em novos desajustes. O potencial de crescimento define o ritmo sustentável sem desarranjos nos preços e nas contas externas. O governo estima um potencial de 2,5%, segundo disse na semana passada o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Outras fontes calculam números inferiores – e até bem inferiores – a 2%.

Novos cortes de juros e algum estímulo ao consumo poderão animar os empresários a começar a investir, mas o movimento deverá ser, no começo, muito moderado. Além da capacidade ociosa, os dirigentes do setor privado deverão levar em conta incertezas econômicas internas e externas e, dependendo das circunstâncias, a insegurança política. Mesmo sem risco institucional, a aproximação das eleições poderá complicar a avaliação do quadro político nos 12 a 24 meses seguintes. Diminuir as incertezas deve ser, portanto, uma das prioridades do governo.

Do lado político, a tarefa inclui, obviamente, o esforço para levar adiante a agenda de reformas e a reafirmação constante do compromisso com o conserto das contas públicas. Do lado econômico, uma das frentes mais importantes será a dos investimentos em infraestrutura.

Isso exigirá, além de bom senso quanto aos critérios de outorga, competência gerencial para definir objetivos, cuidar de projetos e avançar na realização das licitações. O leilão de projetos de transmissão de energia, realizado ontem, foi um bom passo. Os contratos negociados deverão, segundo as primeiras estimativas, envolver investimentos de R$ 12,7 bilhões. Alguns poderão levar até mais de quatro anos para se completar, mas a demora, em alguns casos, pode ser inevitável. De toda forma, é preciso iniciar com rapidez a implementação da agenda.

A ideia de um pacote de financiamentos para projetos municipais, com R$ 2,7 bilhões do FGTS, parece atender a exigências de rapidez e de multiplicação de obras, mas poderá haver problemas de coordenação e controle. A mera liberação de verbas, sem um bom acompanhamento dos passos seguintes, envolverá, com certeza, riscos importantes.

Não basta gastar e registrar o dispêndio como investimento, isto é, como aplicação em estradas, hidrelétricas, portos, equipamentos mecânicos, etc. Todo manual de investimento deveria conter um capítulo sobre a Operação Lava Jato.