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Antídoto contra o populismo

Na semana passada, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) afirmou que, se for eleito presidente da República, dará um fuzil a cada produtor rural como forma de combater a criminalidade no campo

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Por Redação
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Na semana passada, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) afirmou que, se for eleito presidente da República, dará um fuzil a cada produtor rural como forma de combater a criminalidade no campo. No dia seguinte, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) disse que preferiria dar um trator a cada fazendeiro, mas não descartou a ideia de facilitar o porte de armas para quem vive no campo. “Porte de armas pode ter. Na área rural até deve ser facilitado”, disse o pré-candidato do PSDB.

A violência no campo é um problema sério, que vem crescendo nos últimos anos. Certamente, o assunto estará presente na campanha eleitoral, pois afeta um setor com relevante participação na economia nacional. Quem vive ou trabalha no campo espera, com toda razão, uma mudança de cenário, no qual não esteja refém de criminosos e suas quadrilhas.

Os candidatos precisam apresentar respostas consistentes ao problema da segurança, assim como a tantas outras questões urgentes da vida nacional. Numa campanha eleitoral madura e responsável, propor ao eleitorado um caminho efetivo para os desafios nacionais é muito diferente do que simplesmente manifestar uma posição estridente, que aparenta conter muita determinação para mudar o cenário vigente, mas na prática é mero fogo de artifício.

Respeitar o direito de autodefesa do cidadão é uma obrigação básica do Estado. E, especialmente diante de um problema grave como é a violência no campo, cabe avaliar se a legislação atual sobre porte e uso de armas é de fato equilibrada e se tem produzido os efeitos esperados. No entanto, a segurança no campo vai muito além de armar o produtor rural. O reconhecimento da complexidade dos problemas é antídoto contra o populismo, que prefere apresentar a solução dos desafios nacionais como mera questão de voluntarismo.

A segurança pública é dever do Estado, e não cabe repassar tal responsabilidade inteiramente ao cidadão. O produtor rural espera que o poder público investigue os crimes, desmantele as quadrilhas, obtenha a efetiva punição dos criminosos, melhore a fiscalização, aumente o controle nas estradas. Todos os temas nacionais são assim complexos. Os pré-candidatos e seus partidos têm, portanto, a obrigação de diagnosticá-los e de prescrever soluções correspondentes às dificuldades encontradas.

As pesquisas de opinião têm detectado amplas margens de indecisão no eleitor. Ainda que seja compreensível, já que a campanha ainda não começou, tal cenário traz grandes riscos, como muitos analistas têm notado. A lenta recuperação da economia é também reflexo das incertezas da política.

No entanto, esse cenário ainda tão aberto é também uma oportunidade para os partidos minimamente preocupados com o País dizerem o que pretendem. Afinal, o eleitor não deve escolher o seu candidato a partir de ideias preconcebidas. Antes de bater o martelo, ele deseja ouvir o que cada um tem a dizer e julgar o que melhor convém à Nação.

O cidadão não deseja votar apenas no nome do candidato. Ainda que possa haver mudanças, os nomes dos pré-candidatos já estão aí, mas isso não tem sido suficiente para motivar o eleitorado a se inclinar por algum deles. O eleitor quer conhecer programas e soluções.

Diante desse quadro, há pré-candidatos que já mostraram o seu descompromisso com soluções efetivas e duradouras. Antes mesmo de a campanha começar, sinalizaram que suas propostas estão no campo do populismo. São medidas simplistas, que ignoram a complexidade e a gravidade dos problemas nacionais, além de serem, em sua imensa maioria, inexequíveis.

Há uma grande oportunidade para os partidos minimamente responsáveis com o futuro do País nesse cenário de carência de propostas consistentes, efetivas e realizáveis. Os candidatos não precisam se engalfinhar no terreno das promessas vãs. Sempre há, à vista e à disposição de todos, o vasto campo da honestidade, da responsabilidade e da competência.