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Apoiar o empreendedorismo

Embora mudanças feitas nos últimos anos na legislação específica para pequenos empreendimentos tenha facilitado muito as atividades de empresas desse porte e estimulado o espírito empreendedor, essas empresas, como as demais em atividade no País, enfrentam uma lista imensa de dificuldades

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Por Redação
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O desejo de ter um negócio próprio já supera amplamente o de fazer carreira em uma empresa, o que mostra a disposição crescente do brasileiro de trocar a segurança proporcionada pelo trabalho assalariado pelos riscos de um empreendimento, na expectativa de alcançar uma vida melhor em menos tempo. É um importante indicador da capacidade empreendedora do brasileiro, cuja eficácia, no entanto, é fortemente contida pelo inadequado ambiente para negócios.

O desejo de ter um negócio próprio foi manifestado por 34,5% dos brasileiros adultos, com idade entre 18 e 64 anos, consultados no ano passado para a pesquisa sobre empreendedorismo realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor, com o patrocínio do Sebrae. Como mostrou a reportagem publicada há dias pelo Estado, na série em que apresenta e discute as condições para A Reconstrução do Brasil, ao contrário do que ocorria no passado recente, a vontade de empreender é muito maior do que a de seguir carreira como profissional contratado por uma empresa, manifestada por 22,7% dos entrevistados.

Como resultado, de cada dez brasileiros em atividade, quatro são donos de empresa. É o maior índice de empreendedores dos últimos 14 anos e mais do dobro do que foi aferido em 2002. São, em geral, empresas de pequeno porte, mas que deixam evidente a mentalidade empreendedora, sobretudo entre os mais jovens.

Os pequenos empreendimentos já têm peso expressivo na geração de riquezas e de empregos no País. A fatia do Produto Interno Bruto (PIB) gerada por micro e pequenas empresas passou de 21% em 1985 para 27% em 2011. No ano passado, essas empresas respondiam por 52% dos empregos com carteira assinada e por 41,4% da massa salarial.

Entretanto, embora soe promissora para o País, a disposição empreendedora dos brasileiros tem de superar muitos obstáculos para propiciar o esperado êxito pessoal e se transformar efetivamente em fonte de bens, serviços e empregos.

Embora mudanças feitas nos últimos anos na legislação específica para pequenos empreendimentos tenha facilitado muito as atividades de empresas desse porte e estimulado o espírito empreendedor, essas empresas, como as demais em atividade no País, enfrentam uma lista imensa de dificuldades. A legislação trabalhista, por exemplo, gera muitos conflitos que são levados à Justiça, com custos pesados pelo menos para uma das partes, além de impor responsabilidades financeiras que os empregadores consideram excessivamente onerosas.

A burocracia continua a afetar duramente a atividade empreendedora no Brasil, consumindo precioso tempo das empresas, sujeitando-as aos excessos de uma fiscalização implacável – e não raro interessada em acertos à margem da legislação – e retirando-lhes eficiência e produtividade. Além de dificuldades para abrir ou para encerrar um negócio, o empreendedor enfrenta a exigência de licenças fornecidas por diferentes órgãos da administração pública, de acordo com seu ramo de atividade. Não por acaso o Brasil ocupa há muito tempo posição desconfortável na classificação dos países de acordo com o ambiente que oferece para o desenvolvimento dos negócios.

Há, ainda, dificuldades históricas para que os novos empreendimentos ganhem eficácia e produtividade e alcancem rápido crescimento. São, em geral, dificuldades dentro das próprias empresas, pois muitas delas nascem das necessidades de seu responsável – que as criam em momentos de dificuldade, como desemprego – e não das oportunidades do mercado. Falta à grande maioria dos novos empreendedores a ambição para inovar, para modernizar processos, métodos e produtos, o que retarda ou limita o crescimento de seus empreendimentos.

A criação de um ambiente mais propício para o desenvolvimento dos negócios decerto estimulará os empreendedores a buscar a inovação. Para isso, é preciso que o País esteja consciente da necessidade de eliminar pelo menos parte dos entraves ao crescimento.