
26 de abril de 2010 | 00h00
Assinam o documento os chefes de governo de Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Equador, Nicarágua, São Vicente e Granadinas e da Venezuela. Participaram da reunião como convidados especiais os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da República Dominicana, Leonel Fernández. Nova reunião foi marcada para os dias 3 e 4 de junho na cidade equatoriana de Otavalo.
O encontro de cúpula da Alba e sua declaração, intitulada Manifesto Bicentenário de Caracas, foram dois dos itens da intensa programação organizada pelo governo do presidente Hugo Chávez para comemorar o bicentenário da instalação da primeira forma de governo autônomo do país, quando as tropas de Napoleão depuseram o rei da Espanha (a independência da Venezuela só se concretizou em 24 de junho de 1821).
Chávez, em traje militar de gala, abriu as comemorações afirmando que a Venezuela "nunca mais será colônia ianque nem de ninguém" e que "chegou a hora de nossa verdadeira independência, 200 anos depois". Alguns dirigentes estrangeiros convidados de Chávez completaram o discurso. "Estamos aqui construindo uma América nova e a "grande pátria" com que sonharam os libertadores", disse o equatoriano Rafael Correa. "Nossos povos acordaram."
Aviões russos, americanos e chineses do governo bolivariano da Venezuela sobrevoaram o local das comemorações, enquanto em terra desfilavam soldados, membros das milícias formadas por Chávez, índios identificados como "socialistas" pelos apresentadores e funcionários da estatal de petróleo PDVSA. Os grupos gritavam palavras de ordem socialistas.
Mas, embora tenha evocado ? como sempre faz em ocasiões como essa ? a figura do libertador Simón Bolívar e tenha sido chamado de "comandante em chefe da revolução bolivariana", Chávez não foi a figura principal das comemorações. Esse papel coube à presidente argentina, Cristina Kirchner.
Seria a presença de Kirchner, além de outros dirigentes, em Caracas, uma demonstração da liderança que Chávez imagina ter sobre a região e do apoio à ideologia do "socialismo do século 21" por ele pregada?
No caso de Cristina Kirchner, em especial, são outros os motivos da adesão às comemorações de Chávez, e mais práticos. A forte ligação entre os governos argentino e venezuelano não se deve a identidades ideológicas. A principal razão para a proximidade entre Kirchner e Chávez é de natureza financeira.
Desde a presidência de Néstor Kirchner, antecessor e marido de Cristina, a Venezuela apoia financeiramente o governo argentino. A partir de 2005, o governo venezuelano comprou mais de US$ 9 bilhões em títulos da dívida argentina. Em visita anterior a Caracas, Cristina Kirchner lembrou "a ajuda financeira que (Chávez) nos deu quando a Argentina não tinha acesso ao crédito por causa da suspensão dos pagamentos da dívida em 2003". Em contrapartida, Chávez contou com o apoio aberto da Argentina à sua pretensão de ingressar no Mercosul.
Para dispor desse tipo de apoio por mais tempo, Chávez precisará conceder novas ajudas a seus aliados. Discursos, apenas, não bastam. Mas a crise financeira que vive seu governo, em razão dos erros que cometeu e vem cometendo, esgotou sua capacidade de auxiliar outros governos. Agora, é ele quem depende de ajuda do exterior.
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