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As ciclovias prometidas

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Por Redação
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A Prefeitura de São Paulo anunciou, em novembro, a construção de 100 quilômetros de ciclovias que deveriam começar a ser entregues ao público neste ano. A intenção era estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, para melhorar o trânsito e o meio ambiente. O projeto, no entanto, não levou na devida conta as dificuldades para instalar essas vias exclusivas numa cidade de malha viária saturada e somente agora a Prefeitura determinou o início da construção das ciclovias. As obras dos primeiros 45 quilômetros deverão começar em dois meses, com conclusão prevista para o segundo semestre de 2010. Serão destinados ao projeto R$ 21,7 milhões para a construção de 20 quilômetros de ciclovias (pistas separadas das demais faixas de trânsito) e 25 quilômetros de ciclofaixas (pequeno corredor, com sinalização especial). Para as faixas exclusivas, o canteiro central de algumas vias será utilizado. Em outras, ocuparão o lugar de vagas de estacionamento. Serão beneficiados três bairros localizados no extremo das periferias mais carentes - Jardim Brasil, na zona norte; Jardim Helena, na zona leste; e Grajaú/Cocaia, na zona sul. Para a escolha desses pontos foram considerados os deslocamentos em bicicletas nesses bairros e a carência de transporte público para os moradores dessas regiões. O centro expandido não foi incluído nessa fase da instalação das ciclovias. Por enquanto, a área ganhará uma faixa de lazer para as bicicletas, que será instalada nas manhãs de domingo, a partir do dia 30, num percurso de 5 quilômetros entre os Parques do Povo e Ibirapuera. Conforme dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), diariamente são registrados pelo menos 160 mil deslocamentos de bicicleta na cidade, embora haja menos de 20 quilômetros de ciclovias fora dos parques, boa parte delas em situação precária. Apesar de representarem 0,6% do total de deslocamentos realizados na cidade, em 2008, 6% das mortes ocorridas no trânsito (85 pessoas) foram de ciclistas. Análises de especialistas mostram que o uso da bicicleta como meio de transporte - e não de lazer - só contribui para o alívio dos congestionamentos de trânsito quando existem, pelo menos, 300 quilômetros de ciclovias seguras. Bogotá, capital da Colômbia, é o exemplo citado de cidade onde houve considerável redução dos congestionamentos, depois de construídas as ciclovias necessárias. Na região metropolitana de São Paulo, apesar da violência crescente do trânsito, o número de ciclistas continua aumentando. Isso ocorre especialmente na cidade de São Paulo. Por exemplo, a última pesquisa Origem e Destino, realizada pelo Metrô, mostrou que quase dobrou a quantidade de viagens realizadas por pessoas que, diariamente, usam a bicicleta para se locomover na capital do Estado. Em 1996, eram 162 mil deslocamentos por dia e, hoje, são 305 mil. A proposta de instalação de ciclovias provocou a resistência de muitos técnicos dentro da própria CET, preocupados com os riscos inerentes a esse meio de transporte. Os defensores da iniciativa, porém, afirmam que a construção de corredores exclusivos reduzirá os riscos de acidentes. É preciso, no entanto, lembrar que os planos da Prefeitura não contemplam o melhor modelo de ciclovia para todas as vias. Mesmo na periferia, onde o trânsito não é tão intenso quanto nos corredores centrais, a ciclofaixa é o modelo de maior extensão na primeira fase do plano, embora não seja o ideal de segurança. Portanto, antes de estimular o uso de bicicletas, a instalação de bicicletários e o empréstimo de bicicletas em estações do Metrô e da CPTM (29 delas já adotaram a prática), é preciso melhorar as condições de segurança dos ciclistas, construindo ciclovias que evitem que os usuários desse meio de transporte tenham de disputar espaço com automóveis e motocicletas. Em São Paulo, os motoristas já são obrigados a conviver com os comboios de motos que circulam entre os veículos, sem respeito às regras mais básicas de trânsito. Se a intenção é estimular também os ciclistas, que seja com o máximo de segurança possível.