
26 de março de 2010 | 00h00
O relatório bienal O Estado das Cidades do Mundo: Unindo o Urbano Dividido foi apresentado durante o Quinto Fórum Urbano Mundial, realizado entre os dias 22 e 26, no Rio de Janeiro, e, segundo ele, bairros e favelas tiveram crescimento de 10% ao ano nas últimas décadas. Embora 227 milhões de pessoas tenham conseguido sair das favelas, desde 2000, elas abrigam ainda 827,6 milhões de habitantes em todo o mundo. No Brasil, o número de moradores de barracos diminuiu 16%, passando de 31,5% da população para 26,4%, enquanto a média entre os países latino-americanos é de 19,5%. Estudos do Banco Mundial revelam que 80% da área urbanizada do mundo tem alto nível de desigualdade e cerca de 60% da população carente mundial vive em cidades.
Há, enfim, uma clara relação entre urbanização e desenvolvimento nas grandes cidades dos países emergentes, mas sempre acompanhada de diferenças sociais decorrentes da incapacidade dos governos de vencer desafios como a ampliação da infraestrutura e dos serviços, o gerenciamento de situações de risco, garantias de segurança pública e de proteção ao meio ambiente, etc. O relatório da ONU mostra que as 40 regiões metropolitanas mais importantes do mundo concentram 18% da população mundial, 66% de toda a atividade econômica e 85% da inovação tecnológica e científica do planeta.
O maior exemplo está na China, na região de Hong Kong-Shenzhen-Guangzhou, onde vivem aproximadamente 120 milhões de pessoas. No Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo compõem uma dessas conurbações, abrigando 43 milhões de pessoas, que, a exemplo das outras, exibe grande desigualdade social: apesar de formarem as megarregiões mais ricas da América Latina, o Rio e São Paulo ocupam, respectivamente, a 28.ª e a 39.ª posições entre as cidades mais desiguais do mundo.
Conforme o relatório, o Brasil é o país campeão nesse quesito, na América Latina. Cinco cidades brasileiras estão entre as 20 mais desiguais do mundo: Goiânia, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba apresentam grandes diferenças entre as rendas da parcela rica e da parcela pobre da população.
Nessas cidades, redes públicas de saúde e educação são insuficientes, a insalubridade se espalha por falta de saneamento e serviços, como o de transporte público, não chegam a boa parte da população ? desafios que tendem a ser cada vez maiores. De acordo com a ONU, na próxima geração, cerca de 70% da população mundial viverá em cidades, pagando o preço do abismo existente entre a estrutura urbana oferecida à parcela carente e à parte mais abastada da população. Milhões de famílias estarão expostas aos males provocados pela incapacidade dos governos e setores da sociedade de estabelecer parcerias efetivas para a solução dos principais problemas urbanos atuais.
Em São Paulo, cidade mais rica do País, um terço da população mora em favelas, loteamentos, cortiços e outros assentamentos. São 994.926 famílias que foram atraídas pelo conjunto de oportunidades encontradas num grande e rico centro urbano, mas incapaz de se equipar com a velocidade requerida pelo avanço populacional. Grande parte dessas pessoas vive em situação de risco, embora, nos últimos anos, os governos tenham se empenhado em urbanizar favelas e desenvolver programas habitacionais.
Para recuperar as décadas de atrasos e os prejuízos da omissão ante a ocupação desordenada da capital e região, muito mais terá de ser feito, com a urgência possível, para a efetiva redução da desigualdade e um mínimo de ordenamento urbano.
Encontrou algum erro? Entre em contato