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As estatísticas das estradas

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Por Redação
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O número de mortes provocadas por acidentes de trânsito nas estradas paulistas apresentou alta considerável no ano passado, rompendo a tendência de queda do índice de violência no trânsito. Entre 2000 e 2008, ano em que a Lei Seca entrou em vigor, o número de mortes nas estradas do Estado caiu 40%. Conforme dados da Secretaria de Transporte, em 2010, perderam a vida 2.395 pessoas nas rodovias, o que representa aumento de 5% em relação ao ano anterior. Os casos de mortes por atropelamento foram os que apresentaram a maior alta (15%), com 489 registros. Os acidentes fatais com motos aumentaram de 466 para 484, de 2009 para 2010. Ocorrências com carros, caminhões e tratores cresceram 11%. A Polícia Rodoviária tem observado redução de 78% do número de motoristas alcoolizados envolvidos em acidentes. As concessionárias investem anualmente R$ 13,3 milhões por quilômetro para manter as estradas paulistas entre as mais bem conservadas do País e são obrigadas a cumprir as exigências contratuais de recuperação das pistas, ampliação da malha, construção de viadutos, marginais e passarelas. O que o aumento do número de acidentes revela, portanto, é que essas melhorias não reduzem a violência nas rodovias. É preciso educar motoristas e pedestres. Desde 2000, a frota de automóveis e caminhões cresceu mais de 50%, sobrecarregando as vias. Mas, nos últimos 12 anos, com o Programa de Concessões Rodoviárias em São Paulo, as estradas paulistas alcançaram padrões de segurança equiparáveis aos das rodovias dos países mais desenvolvidos.Essa evolução, porém, refere-se apenas à infraestrutura. A educação de pedestres e motoristas foi negligenciada e, apesar das mudanças nos processos de obtenção e renovação da carteira de habilitação, a falta de civilidade e a imprudência continuam sendo as causas principais dos acidentes e atropelamentos. Motociclistas continuam usando passarelas como vias de tráfego; pedestres, para não andar alguns metros até as passarelas, arriscam a vida atravessando rodovias entre carros em alta velocidade.A Rodovia Anhanguera se manteve pelo segundo ano consecutivo em primeiro lugar entre as estradas paulistas com maior número de acidentes com mortes. Em segundo e terceiro lugares estão as Rodovias Raposo Tavares e Rio-Santos, que cortam trechos urbanos bastante adensados. Na região de Cotia, por exemplo, a Raposo Tavares é uma avenida que corta vários bairros apresentando movimento permanentemente intenso e um vaivém de pessoas que transformam o acostamento em calçadas. Na Rio-Santos, por sua vez, a partir da região de Bertioga, além da pista única que provoca imensas filas das quais os mais apressados tentam escapar em ultrapassagens perigosas - as colisões frontais têm sido as mais comuns nas estradas paulistas - ou pelo acostamento, por onde transita um grande fluxo de bicicletas, mesmo à noite. As estradas tornam-se, assim, altamente perigosas. O governo estadual e o Comando de Policiamento Rodoviário (CPRV) preferem outra avaliação da situação. Consideram a expansão da malha rodoviária, da frota e a quantidade de veículos nas estradas, e, com a conjugação desses fatores, conseguem anunciar redução de 9,9% de mortes provocadas por acidentes nas rodovias. Jogo de números não muda a situação. Os dados são claros: 32,2% dos acidentes nas estradas são fatais e 32,4% das pessoas que perdem a vida nas estradas são motoristas. Seja qual for o tamanho da frota e das rodovias, o índice é alto demais para os padrões de segurança aceitos mundialmente.O Brasil ocupa a quinta posição no mundo em quantidade absoluta de mortes no trânsito, depois da Índia, China, EUA e Rússia. Dados do IBGE mostram que em diversos Estados, o trânsito mata mais do que a violência interpessoal. Bom seria se São Paulo, como o Estado mais desenvolvido da Federação, investisse o necessário em educação para efetivamente reduzir o perigo no trânsito.