
25 de janeiro de 2013 | 02h10
A revisão dos números do FMI combina, de modo geral, com as projeções de outras instituições multilaterais. A China volta a ganhar impulso, os emergentes continuarão liderando a expansão, o crescimento dos EUA tende a firmar-se, a União Europeia terá em 2013 e 2014 resultados inferiores aos projetados anteriormente e a expansão japonesa será mais vigorosa neste ano do que no próximo. Alguns dados positivos aparecem nas várias análises, com destaque para a reativação americana e os avanços institucionais na zona do euro.
Mas há poucos motivos para otimismo. As projeções do comércio internacional tornam o quadro mais feio. O volume deve aumentar 3,8% neste ano e 5,5% no próximo. As previsões anteriores eram melhores. Sem petróleo, os preços das commodities devem cair 0,3% em cada um dos dois anos.
São perspectivas ruins para o comércio exterior brasileiro, mas animadoras para as autoridades monetárias. Elas vinculam a forte pressão inflacionária nos últimos dois anos principalmente ao mercado internacional de produtos agrícolas. Essa tese pode ser conveniente para o governo, mas a explicação seria mais convincente se incluísse fatores como emprego, salários, crédito e gasto federal. Com essas variáveis, seria mais fácil dar conta da ampla difusão dos aumentos de preços ao consumidor.
Ao detalhar as perspectivas de curto e de longo prazos, Lagarde combinou dados positivos e negativos, contornando o risco de contestar o mote geral da reunião. Do lado animador, ela mencionou a redução de pressões imediatas, como a insegurança nos mercados financeiros e o avanço em algumas tarefas, como a centralização da política bancária na zona do euro e a superação transitória do impasse fiscal americano.
Evitou-se o colapso, mas falta evitar a recaída. Por isso 2013 será, segundo Lagarde, um ano decisivo. Falta implementar os mecanismos da união bancária europeia, tornar operacionais os mecanismos financeiros anticrise, continuar o ajuste das contas públicas, sustentar a demanda com estímulos monetários e evitar, nos EUA, um novo confronto sobre o teto da dívida pública. Também falta apressar a execução de reformas ambiciosas, como a do sistema financeiro, ainda inseguro cinco anos depois do estouro da bolha financeira. Também falta, para efeitos mais duradouros, promover valores como a maior abertura (isso inclui a integração econômica internacional), a mais ampla inclusão social, a maior transparência dos governos e do setor privado. Esses valores são típicos, segundo a diretora do FMI, da nova geração - uma opinião talvez muito otimista.
As condições dos países emergentes e em desenvolvimento são muito diversas, de acordo com Lagarde, mas pode-se fazer pelo menos uma recomendação geral: recompor o espaço de política econômica usado na crise. Essa sugestão vale certamente para o Brasil, mas o governo parece disposto a insistir nos incentivos ao consumo concedidos a partir de 2008 - com resultados abaixo de medíocres em 2011 e 2012.
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