21 de abril de 2015 | 02h03
Em abril de 2011, com apenas quatro meses de Presidência, Dilma fez em Pequim o anúncio do primeiro grande investimento internacional no Brasil em seu governo. A empresa taiwanesa Foxconn, gigante da área de tecnologia da informação, levaria adiante um projeto de incríveis US$ 12 bilhões, ao longo de seis anos, para fazer produtos da Apple no País. Essa cifra equivalia a quase todo o investimento da China no Brasil no ano anterior.
Não era apenas o volume de dinheiro que chamava a atenção. O então ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que acompanhara Dilma em sua viagem à China, informou aos jornalistas que o empreendimento criaria nada menos que 100 mil novos empregos, dos quais 20 mil apenas para engenheiros. Previa-se ainda a construção de uma "cidade do futuro" para abrigar 400 mil pessoas envolvidas direta e indiretamente com o projeto. Coisa de ficção científica.
Ademais, o governo festejava o fato de que, pela primeira vez, o investimento chinês no Brasil seria voltado não apenas para a exploração de commodities, e sim para a produção na área tecnológica, com maior valor agregado. O Brasil ingressaria em um seleto clube de países fabricantes de telas para tablets e celulares - seria o primeiro no Ocidente a ter plantas voltadas para esse fim. Com isso, o preço de um iPad, o tablet da Apple, cairia cerca de 30%, segundo calculava Mercadante.
Passados quatro anos, nada disso aconteceu - salvo o fato de que a Foxconn realmente se instalou no Brasil, aproveitando as inúmeras vantagens fiscais que lhe foram oferecidas pelo governo, mas produzindo resultados muito mais modestos do que fazia supor a fanfarra da dupla Dilma-Mercadante.
Sua linha de montagem no País, instalada em Jundiaí (SP), não emprega nem um décimo do que foi anunciado, tampouco envolve empregos de qualidade - os funcionários que lá trabalham se queixam das condições que lhes são oferecidas e da falta de perspectivas, já que desempenham tarefas meramente repetitivas e que exigem formação simples.
Em lugar da prometida revolução, que deveria incluir transferência de tecnologia "sem condições" e nacionalização de peças, segundo informou Mercadante na época, a Foxconn dedicou-se a fabricar produtos mais baratos, explorando tecnologia ultrapassada para economizar custos, em vez de usar o que havia de mais avançado.
Além disso, a empresa - sempre em linha com a prática do governo de criar expectativas grandiosas que mais tarde não se confirmam - comprometeu-se em 2012 a levantar uma fábrica em Itu (SP), com um investimento de R$ 1 bilhão. Até agora, no terreno da tal indústria não há nada - e a prefeitura local se queixa das "promessas vazias".
A principal dificuldade alegada pela Foxconn para ampliar seus investimentos, assim como ocorre na indústria brasileira em geral, é a baixa produtividade no País, dado que teria sido subestimado pela empresa quando se comprometeu com Dilma. Ademais, o governo esperava arranjar um parceiro brasileiro para a Foxconn - Eike Batista era um dos cotados -, mas não apareceram interessados, restando apenas o BNDES como sócio. Como o BNDES não pode ter mais de 30% de participação acionária, o grandioso projeto da empresa taiwanesa - festejado por Dilma como a prova da confiança dos investidores no Brasil e na competência dos petistas para desenvolver o País - acabou engavetado.
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