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As sombrias previsões do Bird

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Por Redação
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A economia global deve crescer apenas 2,5% neste ano, 0,2 ponto menos que em 2011, e nenhum país em desenvolvimento será poupado, se a situação na Europa se deteriorar, advertem os técnicos do Banco Mundial (Bird) em relatório divulgado ontem. A deterioração, nesse caso, resultará num quadro pior que a contração de 0,3% agora prevista para a zona do euro - e essa é uma hipótese muito realista. Se o temor for confirmado pelos fatos, a minúscula reação estimada para o Brasil - 2,9% de expansão, depois de 2,7% no ano passado - será quase certamente comprometida. De toda forma, os governos dos países em desenvolvimento devem preparar-se para um longo período de instabilidade internacional e dar ênfase a estratégias de longo prazo, aconselham os autores do relatório. Se decidirem levar a sério esse conselho, as autoridades brasileiras terão de abandonar a política de remendos e de estímulos ocasionais a setores selecionados, mas isso parece pouco provável. Reformas amplas e programas sérios de investimentos estão fora da agenda federal, há dez anos, e dificilmente isso mudará agora. O crescimento global previsto para o ano é o menor desde o começo da crise, em 2007-2008. Houve sinais de melhora entre janeiro e abril, mas desde o começo de maio a instabilidade voltou a dominar os mercados, assinala o relatório. Os mercados de ações recuaram cerca de 7% e a redução de preços da maior parte das commodities agravou as perspectivas das economias exportadoras, incluída a brasileira. Incerteza crescente, cortes orçamentários no mundo rico e retração dos financiamentos bancários afetam todos os mercados e põem em risco, mais uma vez, os países emergentes e em desenvolvimento. Esses países garantiam cerca de 50% do crescimento econômico mundial nos anos de crise, mas suas possibilidades de reação, desta vez, são menores do que em 2008. Há menos espaço nos orçamentos para a concessão de estímulos fiscais e a situação das contas externas é menos favorável, com déficits crescentes nas transações correntes dos balanços de pagamentos. Este último ponto corresponde claramente à situação brasileira, mas também na área fiscal a situação é menos folgada do que era há quatro anos, embora as autoridades não aceitem essa versão. De toda forma, as ações de estímulo à economia têm consistido basicamente, desde o segundo semestre do ano passado, em seguidos cortes de juros pelo Banco Central (BC), redução das taxas pelos bancos oficiais e facilidades fiscais para alguns setores. Ainda ontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, voltou a chamar a atenção para a insegurança internacional. A instabilidade dos mercados deve ser a norma "nos próximos meses e trimestres", afirmou. O quadro externo deve continuar desinflacionário, acrescentou, numa avaliação aparentemente compatível com novos cortes dos juros básicos. A evolução do quadro europeu e a desaceleração da economia chinesa parecem confirmar as hipóteses mais sombrias dos economistas do Bird. As autoridades chinesas talvez consigam realizar um pouso suave, confirmando a avaliação apresentada por Tombini em seu depoimento, ontem, no Senado. Mas o cenário político e econômico da Europa justifica preocupações muito sérias. A economia espanhola, apesar da ajuda de 100 bilhões para a reestruturação bancária, ainda poderá piorar nos próximos meses, como admitiu o primeiro-ministro Mariano Rajoy. A Itália continua sujeita a pressões dos mercados financeiros, porque o risco de contágio se mantém. O futuro da Grécia continua incerto. Permanece a ameaça de um abandono desastrado do euro, e haverá muito suspense até as eleições parlamentares do próximo domingo. Uma combinação de ajuste e reformas com alguns estímulos ao crescimento poderia melhorar o cenário, mas o governo alemão reafirmou, também ontem, sua oposição às mudanças propostas pelo presidente francês, François Hollande, e outros governantes europeus. Todos devem, portanto, preparar-se para mais turbulências.