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As sondas da Petrobrás

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Por Redação
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Com a decisão de suspender a operação de afretamento de até quatro sondas de perfuração que seriam fornecidas por empresas nacionais, devido ao preço excessivo exigido pelos interessados, a Petrobrás deu, neste caso específico, uma demonstração prática e clara de preocupação com os interesses de seus acionistas e do País e que, à opção política de privilegiar o produtor local mesmo em detrimento de sua saúde financeira, preferiu a racionalidade empresarial. O caso das quatro sondas é o mais recente entre outros reveladores dos prejuízos que pode causar à Petrobrás e ao País a decisão política do ex-presidente Lula - anunciada ainda em sua primeira campanha eleitoral, em 2002, e formalizada logo no início de seu primeiro mandato - de exigir da estatal a contratação de empresas brasileiras para o fornecimento dos equipamentos e materiais de que necessitará para executar seu imenso programa de investimentos. Há tempos, técnicos da Petrobrás advertem que, se a indústria brasileira de bens de capital não estiver adequadamente preparada, não poderá atender à demanda atual nem muito menos à futura, se e quando a área do pré-sal passar a ser explorada comercialmente. Com um programa quinquenal de investimentos de US$ 224 bilhões, a Petrobrás é a empresa que lidera as contratações de sonda em todo o mundo. Há um problema sério de tempo, pois a empresa tem projetos de exploração cujo prazo termina em 2014, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, e a produção desses equipamentos está atrasada. E ainda não estão definidas as regras para a contratação das sondas de que a estatal necessitará para explorar o pré-sal. Os números assustam. Como vem mostrando o jornalista Norman Gall na série da qual o Estado vem publicando um capítulo por mês, as demandas de equipamentos são imensas. Para explorar e desenvolver os poços em águas profundas, a Petrobrás precisará encomendar 330 geradores de turbina, 612 mil válvulas, 10 mil quilômetros de cabos elétricos submarinos, 17 mil quilômetros de tubos flexíveis, 4,8 milhões de toneladas de aço, milhares de peças de equipamentos submarinos, 68 milhões de homens-hora de engenharia e 1 bilhão de horas de trabalho para a construção e montagem dos poços. A indústria brasileira não tem escala para atender a essa demanda, carece de tecnologia e de mão de obra treinada, não dispõe de capital para investir no montante exigido e reclama - justamente - do peso excessivo dos tributos que a onera mais do que seus concorrentes externos. Não são problemas que possam ser resolvidos a tempo de assegurar o fornecimento no ritmo, na qualidade, no preço e nas especificações técnicas exigidas pela indústria de petróleo. A licitação das quatro sondas, que seriam fornecidas apenas por empresas brasileiras, foi suspensa porque a Petrobrás estava disposta a pagar até US$ 500 mil por dia pelo afretamento de cada uma, mas as ofertas que recebeu, como mostrou reportagem do Estado na terça-feira, variaram de US$ 639 mil a US$ 740 mil por dia. A intenção da empresa era estimular a produção no Brasil desses equipamentos e utilizá-los ao longo de 20 ou 30 anos, por meio de afretamento. O preço excessivo é apenas uma das distorções geradas pela reserva de mercado imposta por Lula, e mantida pela presidente Dilma Rousseff. Como essa política a protege da concorrência externa, geralmente mais preparada, a indústria local procura potencializar o lucro por contrato. Quando não impõe perdas à Petrobrás, essa prática atrasa as contratações e a execução dos programas da estatal. Além disso, interessadas apenas em vender para a estatal, que sabidamente tem pressa - determinada pela lógica política do governo - para executar seus planos, as empresas nacionais deixam de lado potenciais clientes privados, alguns dos quais não dispõem do conhecimento do mercado internacional que tem a estatal. A saída para o País é comprar de fornecedor mais confiável, ainda que estrangeiro, como parece ser agora a disposição da estatal com as quatro sondas.