17 de outubro de 2013 | 02h13
O aumento de R$ 500 mil para R$ 750 mil do valor máximo dos imóveis que podem ser financiados pelo SFH nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e também no Distrito Federal (para os demais Estados, o novo limite é de R$ 650 mil) beneficia basicamente a classe média, até agora pouco sensível ao discurso político dos governos petistas.
Destaque-se que o benefício está sendo concedido em ano que antecede ao da eleição presidencial. O fato de a correção anterior do limite para o financiamento pelo SFH ter sido feita em 2009, também um ano que antecedeu a uma eleição - justamente a que levou Dilma Rousseff à Presidência -, reforça a suposição de que, nesse campo como em outros, os governos do PT seguem um cronograma de clara inspiração eleitoral.
Ao mesmo tempo que acena para a classe média, o governo atende a reivindicações já antigas de importantes setores empresariais - a indústria da construção civil e o setor financeiro -, dos quais precisa aproximar-se para reduzir a resistência a seus projetos, sobretudo na área de infraestrutura. E, se a medida produzir os efeitos esperados, poderá aumentar os investimentos de que o País carece para crescer mais depressa e de maneira mais sólida. O aumento dos investimentos, se ocorrer, terá impacto sobre o desempenho da economia em 2014, o ano da eleição.
A correção do valor máximo de financiamento aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ficou abaixo da inflação acumulada em quatro anos, o que desagradou ao setor empresarial. Para compensar, o CMN aprovou outras medidas que beneficiam a construção civil. Os Estados e municípios poderão tomar mais empréstimos para executar obras de saneamento e para pagar sua contrapartida nas obras executadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento e pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida. Ou seja, haverá mais recursos para obras públicas em ano eleitoral.
É pouco provável que, financeiramente, essas medidas compensem o fraco resultado dos leilões na área de infraestrutura programados pelo governo para os últimos meses do ano. O fracasso do leilão da BR-262, para a qual não houve oferta, a ausência de algumas das maiores empresas mundiais de petróleo na disputa pelo campo gigante de Libra, na área de pré-sal, e a necessidade de revisão de critérios básicos para os próximos leilões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos mostram como eram irreais as expectativas do governo nessa área. O governo talvez espere que as novas facilidades para a indústria de construção reduzam sua frustração com os leilões.
O congelamento por quatro anos do valor máximo reduziu o universo de imóveis financiáveis pelo SFH - que utiliza recursos das cadernetas de poupança e do FGTS -, o que afastou do mercado muitos potenciais compradores. Há pelo menos dois anos, por isso, as empresas de construção e os bancos vinham pressionando o governo para corrigir o limite. O governo, no entanto, resistia, pois temia uma concentração dos negócios na faixa mais alta de preços e o impacto que poderia ter sobre os demais preços e sobre a inflação.
A área técnica do governo não acredita que haverá um grande aumento de vendas nem elevação acentuada dos preços, pois estes subiram fortemente há algum tempo e o mercado mostra certa acomodação, com crescimento semelhante ao da economia.
O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo prevê que o crescimento do setor no País neste ano deverá ser muito próximo do aumento do PIB, previsto entre 2% e 2,5%. As vendas de material de construção no varejo seguem a mesma tendência. Nos 12 meses encerrados em agosto, o aumento foi de 2,7%, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção.
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