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Avanços na Colômbia

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Por Redação
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O início formal de negociações, acertado entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e o grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN), o segundo maior em atividade na Colômbia, é mais um passo da maior importância no longo e difícil processo de pacificação desse país, assolado por conflitos que duram mais de meio século. Principalmente se se leva em conta que os entendimentos com o maior daqueles grupos, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), estão em sua fase final e um acordo já é dado como certo. Esse primeiro acerto com o ELN foi precedido, nos últimos dois anos, de sete “contatos exploratórios”, a maior parte deles realizada em Quito, no Equador. Agora, as negociações serão feitas, além do Equador, também na Venezuela, Chile, Brasil e Cuba. A agenda é semelhante à dos entendimentos com as Farc – com o acréscimo de um ponto ainda vago sobre “participação da sociedade” – e, tal como estes, deve levar a um acordo final sobre a situação jurídica dos guerrilheiros, suas condições de segurança, as regras de transição para a atividade política legal, o futuro dos membros do ELN que se encontram presos, o estabelecimento de mecanismos de controle, o fim das hostilidades e a entrega das armas. As negociações com os dois grupos guerrilheiros estão intimamente ligadas. Embora tenha um efetivo estimado de 1.300 membros – bem inferior aos das Farc, de 7.500 –, o ELN intensificou seus ataques nos últimos cinco anos, dessa forma aumentando o seu poder frente ao governo. Além disso, o próximo acordo com este último grupo poderia levar o ELN a ocupar os espaços vazios deixados pelas Farc. Mas a grande ameaça à paz interna na Colômbia continuam sendo as Farc e as negociações com elas ainda dependem do acerto definitivo de alguns pontos, como os referentes à desmobilização e à entrega das armas. A essa altura, porém, parece difícil que questões como essas sejam capazes de inviabilizar o esperado acordo. Como disse o senador e ex-guerrilheiro Antonio Navarro Wolf em entrevista ao Estado, “as Farc se deram conta de que o conflito armado não tem possibilidade de vitória. É um caminho fechado. Isso é o mais importante. De outro lado, o governo decidiu que era melhor evitar mais dez anos de conflito e encerrá-lo agora”. Wolf chama a atenção para um ponto fundamental – a necessidade de manter as Farc unidas, embora evidentemente desarmadas, para evitar que os milhares de homens e mulheres que as integram, hábeis no uso de armas e experientes em combate, sejam recrutados por grupos criminosos. E o caminho para isso é a participação dos chefes guerrilheiros na vida política. O presidente Juan Manuel Santos adverte que, além de difícil, “não há acordo de paz perfeito”, certamente referindo-se às críticas feitas a ele por seu antecessor Álvaro Uribe. O importante é que “as duas partes concordaram em se submeter a uma justiça de transição, que tem de ser menos rígida que o normal”, embora “os máximos responsáveis por crimes contra a humanidade” devam ser julgados e condenados: “Acho que chegamos a um ponto de equilíbrio aceitável para todos”. O fim da luta interna na Colômbia, que já se desenha no horizonte, deixará duas lições. Uma mostra o escandaloso descaminho da mais longeva guerrilha – a das Farc – da América Latina, que a certa altura não teve o menor escrúpulo de se aliar ao narcotráfico, uma das formas mais cruéis e perniciosas de crime organizado, a ponto de não se saber onde começava uma e terminava o outro. A outra lição é a da rara capacidade de resistência da Colômbia a esse flagelo, que, apesar das tragédias provocadas – mesmo somadas à ação dos poderosos cartéis das drogas, que com elas coincidiu por muito tempo –, não conseguiu destruir suas instituições, seus serviços públicos e sua vida política, nem abalar a coesão de sua sociedade.