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Baderna na USP

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Por Redação
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Em greve há quase três meses sem conseguir que sejam aceitas suas reivindicações de aumento salarial, os funcionários da Universidade de São Paulo (USP) - que não tem a mais remota possibilidade de atendê-las - estão perdendo o controle e partindo para ações violentas. Foi o que se viu na manhã de ontem, quando tentaram impedir o acesso à Cidade Universitária. A Polícia Militar (PM) teve de intervir para garantir o direito dos alunos de comparecer às aulas dos cursos que continuam funcionando, o que levou a um confronto provocado por grupos dos quais, por integrarem a mais importante universidade do País, não era de esperar esse comportamento irresponsável, de simples baderneiros.Pretendia o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) fazer o que chamou de "trancaço" - o fechamento, das 4h30 às 20h30, dos três portões da Cidade Universitária, perto dos quais foram armadas barricadas. A USP ficaria assim completamente isolada, com graves consequências também para o trânsito já normalmente ruim da região. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. No último dia 7, os grevistas já haviam impedido o acesso ao local, das 7 às 11 horas, usando a mesma tática, sem que a polícia interviesse.Dessa vez, a coisa foi diferente. Policiais da Força Tática do 16.º Batalhão da PM agiram com o rigor necessário para liberar o acesso à Cidade Universitária e dispersar os grevistas que tentaram resistir nas barricadas. Às 6h20 os três portões tinham sido reabertos. O Sintusp afirma que 10 dos grevistas que participaram do bloqueio foram feridos por balas de borracha ou sofreram os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo, o que a PM nega. Não bastasse a óbvia necessidade de impedir o cerco ilegal do local, a PM teve o respaldo de ordem judicial, concedida em 24 de julho, que garante reintegração de posse de qualquer unidade ou instalação da USP na Cidade Universitária ocupada por grevistas.A truculência dos grevistas não afetou apenas a atividade normal da universidade no câmpus do Butantã. Toda a circulação da região foi também prejudicada. Por volta das 7 horas a Avenida Corifeu de Azevedo Marques tinha 4,5 quilômetros de congestionamento no sentido bairro, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O bloqueio dos três portões da USP afetou a circulação de oito linhas de ônibus e a Estação Butantã, da Linha 4-Amarela do Metrô foi fechada em parte da manhã, por causa da ação dos grevistas.Esse episódio ilustra bem a irresponsabilidade e a tendência de inverter situações que têm caracterizado ultimamente o comportamento de manifestantes e grevistas. A polícia é sempre mostrada como agressora por cumprir sua obrigação legal de manter a ordem pública. Eventuais excessos policiais - que têm de ser combatidos - não devem obscurecer o fato de que agressão comete é quem, com manifestações que paralisam vias importantes da cidade ou impedem o acesso a uma universidade, pisoteia o direito dos outros de ir e vir ou de assistir a aulas.Não tem cabimento a posição de Diana Assunção, diretora do Sintusp, segundo a qual a PM agiu com intransigência: "A polícia foi chamada para reprimir. Não houve nenhuma conversa". Ela queria que a polícia fizesse o que, como é seu dever - e com base em ordem judicial -, para restabelecer a ordem pública e fazer cumprir a lei? Intransigência como, se as autoridades até toleraram - o que não deviam ter feito - o cerco da USP no dia 7? Também não tem cabimento a queixa dos grevistas de que tiveram cortados de seus salários os dias parados. Esse é o risco de qualquer greve. Receber pagamento por dias parados não faz parte do direito de greve. Quanto ao reajuste de salários negado, motivo da greve, sua impossibilidade no momento salta aos olhos. Na USP, os salários correspondem a 105,3% do orçamento, número que mostra, melhor do que qualquer outra coisa, tanto a razão como a profundidade da crise em que ela está mergulhada. Nesse quadro, a insistência na greve só pode se explicar por motivos políticos.