
25 de fevereiro de 2012 | 03h08
Os mesmos economistas projetam para o fim do ano uma taxa Selic de 9,5% - um ponto abaixo do nível atual -, mas essa estimativa é baseada essencialmente nos sinais emitidos pelas autoridades monetárias. Para 2013, no entanto, apostam num retorno aos 10,5%. A inflação, estimada em 5,02% na pesquisa Focus divulgada nessa quarta-feira, ainda estará mais de meio ponto acima do centro da meta - 4,5%.
A pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC, já indicava desde o trimestre final de 2011 a suspeita disseminada no mercado: a autoridade monetária decidiu aceitar um pouco mais de inflação em troca de um pouco mais de crescimento econômico. Claro, ninguém é bastante ingênuo no mercado financeiro, nem nas consultorias mais conhecidas, para levar realmente a sério a ideia de "um pouco mais de inflação". O risco é sempre considerável, quando se relaxa o controle antes da hora.
A pesquisa especial do BC sobre a política de juros, divulgada na quinta-feira, esclarece um pouco mais as razões dessa desconfiança. Segundo os consultados, o limite de segurança para a Selic, o juro básico definido pelo Copom, é hoje uma taxa real de 5,5% ao ano. Seria essa a taxa neutra, isto é, compatível com o maior nível de atividade sem maiores pressões inflacionárias. Mais precisamente, essa é a mediana dos números coletados. Mas a taxa real efetiva calculada no mercado é, hoje, de 5%. Em outras palavras, os juros, segundo essa avaliação, já teriam ultrapassado a linha de segurança.
Cálculos desse tipo são sempre sujeitos a imprecisões, mas quem formula a política monetária não tem como evitá-los. Também não pode evitá-los quem exerce a função profissional de avaliar as condições e as perspectivas dos mercados. Os economistas e dirigentes do BC e os especialistas do setor financeiro e das consultorias estão de acordo quanto a um ponto: a taxa neutra diminuiu nos últimos anos, graças a um aumento de eficácia da política monetária. O crédito a empresas e consumidores corresponde hoje a quase metade do valor do Produto Interno Bruto (PIB). Essa porcentagem praticamente dobrou em dez anos.
As decisões sobre juros e sobre as demais condições de oferta de financiamento têm hoje, portanto, um alcance muito maior que no começo da década. Quanto mais eficaz a política monetária, menor tende a ser a taxa neutra de juros, como se verifica nas economias mais adiantadas e com sistemas financeiros mais complexos. Em novembro de 2010, a taxa neutra apontada na pesquisa foi de 6,75% (mediana).
O aumento da eficácia da política e a redução da taxa neutra de juros têm sido mencionados com frequência por dirigentes do BC, principalmente quando procuram justificar o corte da taxa básica iniciado no fim de agosto do ano passado. Nunca foi divulgada, no entanto, a taxa neutra calculada pelo próprio BC e essa é uma das zonas escuras da discussão sobre os juros.
A pesquisa incluiu também uma pergunta sobre a taxa natural de desemprego, aquela compatível com uma economia sem pressões inflacionárias. A mediana das respostas ficou em 6,5%, acima do desemprego estimado recentemente pelo IBGE. Se essa avaliação for correta, pressões salariais deverão juntar-se a outros fatores de inflação.
Os dirigentes do BC têm baseado sua política, desde agosto, na suposição de maior austeridade na gestão das finanças públicas. Até agora, o compromisso do governo com a austeridade tem sido mais retórico do que prático e o resultado fiscal tem dependido mais da receita crescente do que do controle de gastos. Uma discussão mais ampla teria de cobrir também este ponto.
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