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BC mostra firmeza na crise

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Por Redação
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Ao elevar para 14,25% a taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) mais uma vez atraiu críticas de empresários, sindicalistas e políticos, mas deu à sociedade e aos investidores o recado necessário e mais prudente neste momento. Continua empenhado em levar a inflação à meta de 4,5% no próximo ano e atento à sua missão mais importante – defender o poder de compra do dinheiro. Essa reafirmação é especialmente importante num momento de turbulência política, escândalos cada vez mais próximos da Presidência da República e muitas dúvidas quanto à promessa governamental de arrumação das contas públicas. 

A decisão do comitê, formado por diretores do Banco Central (BC), veio poucos dias depois do anúncio de redução da meta fiscal deste ano e do próximo. Com a alteração, o superávit primário buscado em 2015, para o pagamento de juros, deve ficar em 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), mas até esse resultado é improvável. Para 2015 o alvo foi baixado para 0,7%. As metas anteriores eram 1,1% em 2015 e 2% a partir de 2016. Sem o aperto previsto anteriormente para as contas públicas, o ataque à inflação continuará a depender quase só do arrocho monetário conduzido pelo BC. 

As correções introduzidas na gestão das contas públicas foram muito limitadas, em boa parte por causa da resistência dos políticos, facilitada pela fraqueza da presidente Dilma Rousseff. A redução de transferências do Tesouro aos bancos federais foi uma das poucas mudanças. Além disso, continua neste ano o realinhamento dos preços administrados, como os da eletricidade. Mas o efeito imediato mais sensível dessa correção é o reforço das pressões inflacionárias.

Não há como impedir o impacto imediato sobre o custo de vida e os custos empresariais. Mas pode-se tentar conter a contaminação dos demais preços pelo repasse dos aumentos. Os dirigentes do BC referem-se a essa tarefa, quando mencionam a contenção dos “efeitos de segunda ordem” da alta dos preços administrados. É esse um dos objetivos do aperto monetário. Com menos crédito e menos dinheiro em caixa ou no bolso, consumidores e empresas tendem a ser menos tolerantes ao repasse de aumentos. 

Mas acabam sendo duplamente pressionados – pelo impacto imediato da correção daqueles preços e pelo arrocho necessário à limitação dos “efeitos de segunda ordem”. 

É preciso lançar essas consequências na conta da contenção voluntarista, demagógica e irresponsável de preços administrados, uma das marcas da gestão petista e, de modo especial, da atuação da presidente Dilma Rousseff. Todo governante deveria ter entendido há muito tempo os perigos do voluntarismo na política de preços. As lições do último meio século, no Brasil e em muitos outros países, são inequívocas. Mas a repetição de erros bem conhecidos parece uma praga da política, uma das maldições preferidas pelos deuses. 

O arrocho monetário é visível na expansão mais lenta do crédito, na desaceleração do consumo e, naturalmente, na recessão. Os empréstimos, de toda forma, ainda têm crescido. Em junho de 2014 correspondiam a 52,8% do Produto Interno Bruto nominal. Em junho deste ano, a 54,5%, segundo informe divulgado ontem pelo BC. A menor expansão, mais nítida no caso das pessoas físicas, tem-se refletido principalmente na menor demanda de bens duráveis de consumo. 

O aumento anunciado na quarta-feira pode ter sido o último da série iniciada em abril de 2013. A nova taxa, segundo o Copom, será mantida por “período suficientemente prolongado”, para garantir o alcance da meta. Os dirigentes do BC ainda prometem atingir os 4,5% no próximo ano. O mercado projetava, no fim da semana passada, 5,4%. Segundo analistas, a queda resultará de duas causas principais – o freio imposto à demanda e a redução, em 2016, do realinhamento de preços. Seria menos arriscado apostar na acomodação dos preços num ambiente de menor incerteza econômica e, sobretudo, política.