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BC sob pressão política

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Por Redação
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Sob forte pressão para baixar os juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará no começo da noite se já está preparado para afrouxar a política anti-inflacionária e, se a resposta for positiva, se continua empenhado em conduzir a inflação à meta de 4,5% até o fim de 2012. Os preços voltaram a subir, depois de um recuo no meio do ano. Além disso, o aumento acumulado em 12 meses continua bem acima da meta oficial e fora da margem de tolerância. Esse é o aspecto técnico do problema. Se os juros caírem antes da hora, a correção do erro poderá ser muito custosa. Mas há também um aspecto político. Diante das evidentes pressões do Executivo, são inevitáveis as dúvidas sobre quem manda no Banco Central (BC): resta algo, afinal, da autonomia de fato exercida até 2010? As duas questões são delicadas e tornam-se especialmente importantes neste momento. Há graves incertezas no front econômico, por causa da estagnação e dos problemas fiscais nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Se o banco central americano jogar mais dólares no mercado, poderá haver mais especulação no mercado de matérias-primas e novas altas de preços, pelo menos enquanto a demanda chinesa continuar aquecida. É difícil, neste momento, avaliar com alguma segurança os próximos impactos da crise internacional na economia brasileira.Também há fatores internos de insegurança, tanto econômicos quanto políticos. Apesar da anunciada intenção de economizar R$ 10 bilhões adicionais neste ano, o Executivo continua sujeito a pressões de um Congresso gastador e ficará em posição mais vulnerável em 2012, por causa das eleições municipais. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem chamado a atenção para sinais de esfriamento da economia brasileira. São comprovações, segundo ele, do acerto da política oficial. Com a redução do crescimento para algo entre 4% e 4,5% neste ano, o risco de inflação diminui e criam-se condições para a queda dos juros básicos. O quadro se completa com o plano de contenção do aumento de gastos. Mas a cena econômica é mais complexa e menos tranquilizadora do que indica o ministro. A produção industrial de fato perde impulso, embora continue em expansão. Em julho, o Indicador de Nível de Atividade (INA) da indústria paulista foi 0,3%, maior do que em junho, descontados os fatores sazonais. Foi a menor variação para um mês de julho desde 2006, como observou o diretor do Departamento de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Francini. Mas seria preciso acentuar também outro dado: a ocupação da capacidade instalada subiu de 82,2% para 82,7% e se manteve elevada. Além disso, a demanda interna continua forte e os indicadores de consumo permanecem muito bons. No primeiro semestre as vendas no varejo foram 9,2% maiores que as de um ano antes. O poder de compra tem sido sustentado tanto pelo crédito quanto pelos aumentos salariais. Mais de 80% dos acordos concluídos pelos sindicatos na primeira metade do ano proporcionaram ajustes acima da inflação. Até o mês passado os empréstimos continuaram em expansão, embora em ritmo mais moderado. Não se pode avaliar corretamente a evolução da economia nacional sem levar em conta esse contraste: a demanda permanece vigorosa, enquanto a produção industrial perde impulso. A demanda interna será ainda alimentada pela expansão do gasto público neste e no próximo ano, porque a intenção do governo, segundo o ministro da Fazenda, é apenas limitar o aumento do custeio, sem impedir, no entanto, a expansão da despesa total. A breve deflação do meio do ano acabou. O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) subiu 0,44% em agosto, puxado, de novo, pelos preços por atacado. Os preços das matérias-primas brutas aumentaram 1,51%. O IGP-M, com alta de 8% em 12 meses, deverá realimentar os aluguéis e outros preços indexados. O IPCA-15, versão do índice oficial medido entre 14 de julho e 12 de agosto, subiu 0,27%, o dobro da taxa do mês anterior. O acumulado em 12 meses chegou a 7,1%, muito acima do limite de tolerância, de 6,5%. Será hora de afrouxar a política de juros?