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Bernanke não promete nada

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Por Redação
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A maior economia do mundo, emperrada e à beira de uma nova recessão, precisa com urgência de novos estímulos fiscais para ganhar dinamismo e voltar ao trilho do crescimento. Em outras palavras, foi esta a mensagem do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, em seu esperado discurso de sexta-feira, na reunião anual de autoridades monetárias em Jackson Hole, Wyoming. A promoção de um crescimento forte e de longa duração está fora do alcance da política monetária, segundo Bernanke. Sem descartar a hipótese de alguma nova medida na área da moeda e do crédito, ele deixou muito clara, no entanto, a importância primordial de outro tipo de ação - uma provável combinação de gastos públicos e incentivos tributários, tudo isso acoplado a um plano de ajuste de longo prazo. Sem mencionar o nome do presidente Barack Obama, ele apoiou o tipo de política defendido pela Casa Branca na recente negociação sobre a dívida pública e rejeitado pela oposição. A solução depende, portanto, de um acerto do Executivo com o Congresso, e não do Federal Reserve. O discurso foi pronunciado num momento especialmente dramático. Horas antes, o governo havia anunciado a revisão dos dados econômicos do segundo trimestre. Pelos novos cálculos, a economia cresceu em ritmo equivalente a 1% ao ano. A estimativa anterior, já preocupante, havia indicado uma expansão de 1,3%.O desemprego, como foi lembrado no discurso, tem-se mantido pouco acima de 9%, sem perspectiva de redução relevante nos próximos meses.Bernanke mencionou algumas melhoras ocorridas nos últimos dois anos, desde o ponto mais fundo da recessão, mas descreveu a atual crise como mais persistente que as anteriores. A produção americana permanece abaixo do nível atingido antes da crise. A construção imobiliária, um importante fator de recuperação em outras fases difíceis, continua estagnada. Além disso, as pequenas empresas têm dificuldades em obter crédito e as famílias, que tiveram suas finanças abaladas nos últimos anos, evitam pedir novos empréstimos. Durante toda a semana houve enorme expectativa em relação ao pronunciamento de Bernanke. Ele poderia anunciar - esta era uma das hipóteses - uma nova fase de afrouxamento monetário, com o lançamento de mais uma enxurrada de dólares no mercado. Quem esperava uma promessa desse tipo ficou decepcionado. Qualquer decisão sobre novas medidas só será tomada, segundo ele, com base em novas informações. A análise dos novos dados, adiantou Bernanke, será especialmente cuidadosa: a próxima reunião do comitê de política monetária do Fed, em setembro, deverá durar dois dias, 20 e 21, em vez de um. É difícil imaginar, neste momento, para que os diretores do Fed anunciariam uma nova fase de afrouxamento monetário, com novas emissões de dólares. Neste momento, os bancos americanos mantêm no Fed reservas excedentes de US$ 1,6 trilhão - acima daquelas mantidas obrigatoriamente. Se não têm aplicação para esse dinheiro, para que precisarão de mais dólares? Mais dólares no mercado seriam provavelmente dirigidos para a especulação com produtos básicos e para mercados emergentes, aumentando a sobrevalorização de moedas como o real e agravando os problemas comerciais do Brasil e de outros países.Bernanke limitou-se a reafirmar a provável manutenção de juros muito baixos - entre zero e 0,25% ao ano - por muito tempo, talvez até meados de 2013. Ao mesmo tempo, reiterou a expectativa de melhor desempenho da economia americana a partir deste semestre, mas não de uma recuperação suficiente para criação de muitos empregos. Enquanto isso, a crise prossegue no resto do mundo rico. Na Europa, a grande novidade da semana foi o anúncio pelo governo francês de um plano de ajuste, com aumento de impostos e corte de gastos. O governo italiano já havia lançado um plano de austeridade até mais severo.Se essas iniciativas servirem para acalmar os mercados, já produzirão um bom resultado. Mas nem isso é certo e as perspectivas de crescimento, na Europa e também no Japão, permanecem nada animadoras.