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BNDES colhe o que plantou

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Por Redação
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Embora tenha alcançado lucro líquido de R$ 3,3 bilhões no primeiro semestre do ano, 20,4% mais do que obteve na primeira metade de 2012, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem sendo forçado a absorver os resultados negativos das empresas nas quais aplicou quantias muito altas nos últimos anos. A desvalorização das ações dessas empresas está obrigando a BNDESPar - seu braço para operações de participação no capital de companhias privadas - a registrar pesadas baixas contábeis, o que vem comprimindo seus lucros.Estima-se que, com a desvalorização de sua carteira de ações, em razão do mau desempenho dos papéis de pelo menos cinco empresas, a BNDESPar teve de contabilizar uma baixa de R$ 1 bilhão no primeiro semestre do ano. Em consequência, como mostrou reportagem do Estado (21/8), seu lucro líquido no segundo trimestre de 2013 ficou em R$ 228 milhões, 66,7% menor do que o dos primeiros três meses do ano. No semestre, o resultado (R$ 639 milhões) foi 42,7% menor do que o do mesmo período de 2012.O BNDES não informou quais participações forçaram a baixa contábil, esclarecendo apenas que elas se referem a empresas não coligadas, isto é, aquelas nas quais o banco estatal tem participação acionária, mas não tem poder para interferir na gestão (no caso das empresas coligadas, o BNDES influi na administração).Embora não decida sobre a administração das empresas não coligadas, em algumas delas o banco estatal tem participação importante. Um caso muito citado nos últimos meses é o da fabricante de produtos lácteos LBR, da qual a BNDESPar detém 30,28% das ações. A constituição da empresa, seu desempenho e a participação do banco estatal no seu capital sintetizam a política recente do BNDES - cujos maus resultados a instituição oficial agora está sendo obrigada a registrar em seus balanços.Criada em 2010 por forte estímulo do BNDES, a LBR resultou da fusão de duas empresas do setor. Na época, tinha 31 unidades em operação, mas, desde fevereiro do ano passado - quando pediu o regime de recuperação judicial e ainda era classificada pelo BNDES como empresa coligada -, vem encolhendo. Agora são apenas 12 unidades produtoras e o número de empregados caiu de 4,6 mil para 3,4 mil. No ano passado, o BNDES teve de provisionar R$ 865 milhões por causa dos problemas da LBR. No momento, uma empresa francesa negocia sua compra.Outro caso é o do frigorífico Marfrig, do qual a BNDESPar detém 19,63%. Estimulado pelo banco estatal, o frigorífico fez várias aquisições, mas, há poucos meses, teve de se desfazer da mais importante delas, a do frigorífico Seara, que vendeu para seu concorrente, o frigorífico JBS - no qual igualmente o BNDES tem participação. O banco não teve perdas expressivas com as dificuldades pelas quais passam as empresas do Grupo EBX, do empresário Eike Batista - só a petroleira do grupo, a OGX, provisionou R$ 3,6 bilhões para perdas em razão dos maus resultados de alguns campos de petróleo -, pois é pequena sua participação nelas. A BNDESPar detém 0,66% do capital da mineradora MMX e 0,26% da OGX. Mas, entre 2009 e 2012, o BNDES emprestou cerca de R$ 8 bilhões para as empresas do grupo.Essas operações se enquadram na política de constituição daquilo que a diretoria do BNDES chamou de "campeões nacionais", empresas brasileiras com porte e poder para competir no mercado mundial. Setores e grupos empresariais escolhidos pelo banco receberam vultosos financiamentos, a juros inferiores aos do mercado privado, e aporte de capitais, mas em muitos casos, como alguns dos citados acima, seus resultados foram frustrantes.Há alguns meses, em entrevista ao Estado, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, embora discordasse da expressão "campeões nacionais", reconheceu que "a promoção da competitividade de grandes empresas de expressão internacional é uma agenda concluída". Os resultados dessa política, porém, estão surgindo e persistirão - onerando o Tesouro, isto é, os contribuintes.