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Bom exemplo na saúde

Os bons resultados obtidos por programa de parceria entre hospitais privados de ponta e hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) para reduzir a infecção hospitalar são um exemplo de que é possível melhorar o atendimento na rede pública

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Por Redação
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Os bons resultados que estão sendo obtidos por programa de parceria entre hospitais privados de ponta e hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) para reduzir a infecção hospitalar nestes últimos, como mostra reportagem do Estado, são um exemplo de que é possível melhorar o atendimento na rede pública com medidas simples e de custo relativamente baixo. Embora não sejam uma panaceia, medidas como essa, destinadas a tirar o máximo proveito de recursos escassos, são um dos caminhos a seguir para recuperar a saúde pública, especialmente neste momento em que o País enfrenta grave crise econômica.

Em um ano, o treinamento que profissionais de 119 unidades da rede pública de 25 Estados recebem em cinco hospitais privados de ponta – Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Hospital do Coração, de São Paulo, e Moinhos de Vento, de Porto Alegre – já levou a uma redução de 23% das ocorrências de infecção hospitalar em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de três tipos principais: na corrente sanguínea, no trato urinário e pneumonia associada à ventilação mecânica. Participam do treinamento não apenas médicos e enfermeiros, mas também – e este é um ponto importante – integrantes das diretorias dos hospitais para facilitar a adoção dos procedimentos como rotina.

Depoimentos de participantes do programa, financiado por recursos de isenção fiscal – neste caso, bem empregados –, mostram como tem sido possível avançar na melhoria do serviço prestado pela rede pública de maneira simples e objetiva. “Com pequenas coisas que nos ensinaram, a gente tem conseguido reduzir (casos de infecção) mesmo com todas as dificuldades”, afirma Sandra Santos da Luz, coordenadora de enfermagem da UTI do Hospital Municipal Santa Isabel, de João Pessoa. Pequenas coisas incluem a maneira correta de lavar as mãos e o treinamento para colocar sondas.

Uma das UTIs do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, não registra nenhum daqueles três tipos de infecção há cinco meses. Os bons resultados do programa, observados em todas as regiões, levou o Ministério da Saúde a fixar a meta ambiciosa de redução de 50% da infecção hospitalar na rede do SUS até 2020. Isso significará salvar 8.500 vidas de pacientes de UTI. O programa também permitirá, segundo estimativa do Ministério, reduzir R$ 1,2 bilhão nos gastos com internação.

Tudo isso sem fazer reformas e obras na rede pública, apenas redesenhando “o processo assistencial com os recursos disponíveis”, como diz a coordenadora-geral da iniciativa, Cláudia Garcia, do Hospital Albert Einstein. Além de fazer muito com poucos recursos, o alvo do programa foi bem escolhido, porque as infecções hospitalares estão entre as principais causas de mortes em serviços de saúde do mundo inteiro, segundo a Organização Mundial da Saúde.

É preciso ter em mente, porém, que não se pode esperar demais de iniciativas desse tipo. Elas são importantes em qualquer circunstância – porque o bom emprego do dinheiro público, para dele sempre tirar o máximo, deve ser uma regra –, mas têm alcance limitado. Constituem um avanço, não mais do que isso.

A recuperação da rede pública de saúde exige providências mais ambiciosas. O descaso com que foi tratada em sucessivos governos – com destaque para os do PT, pois deles, campeões do “social”, seria de esperar apoio decidido que não veio – foi de tal ordem que ela terá de ser reerguida aos poucos. 

Medidas emergenciais estão sendo tomadas pelo atual governo para socorrer as Santas Casas e os hospitais filantrópicos, responsáveis por 50% dos atendimentos da rede pública. Para evitar seu colapso, que levaria consigo toda a rede, o governo vem liberando desde o ano passado importantes recursos a essas instituições. Elas se endividaram porque a tabela de procedimentos do SUS só cobre 60% dos custos. O passo seguinte deve ser o aumento progressivo dos investimentos no SUS – inclusive para revisão da tabela – do qual depende a população de baixa renda.