Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Bons sinais ainda são raros

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

Se alguém tem rojões para festejar a reativação da economia mundial, o melhor é guardá-los em segurança para mais tarde. Umas poucas boas notícias foram recebidas com demonstrações de entusiasmo nas bolsas de valores, na segunda-feira, mas nem as autoridades americanas ou europeias se arriscam a exibir otimismo. A recuperação poderá começar no fim do ano, refletindo o aumento do consumo, a melhora no setor imobiliário e o fim da liquidação de estoques, disse na terça-feira o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke. Mas provavelmente será, acrescentou, uma reação lenta, com o desemprego atingindo o pico, pouco abaixo de 10%, só no próximo ano. As empresas continuam pouco dispostas a contratar e cautelosas demais para investir, advertiu. Mas o cenário esboçado pelo chefe do Fed é quase luminoso, quando comparado com as novas projeções da Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco europeu. A produção bruta da União Europeia deve encolher 4% neste ano, segundo os cálculos divulgados na segunda-feira. Essa é a estimativa também para a zona do euro. Na projeção anterior, publicada em janeiro, a retração seria de 1,8% em todo o bloco e de 1,9% na área do euro. As previsões para 2010 também serão ruins. Na média, não haverá crescimento durante o ano. O produto bruto do bloco europeu será 0,1% menor que o de 2009. "A economia europeia está no meio da recessão mais profunda e mais disseminada do pós-guerra", disse o comissário do bloco para assuntos econômicos, Joaquín Almunia. Na zona do euro, os piores desempenhos serão os da Irlanda e os da Alemanha - contração de 9% e de 5,4%, respectivamente, em 2009. Nos países bálticos, a redução do produto deverá ultrapassar 10% neste ano. Diante deste cenário, é fácil entender por que a China se tornou, nos últimos dois meses, o principal mercado para as exportações brasileiras. O mercado chinês proporcionou ao Brasil 14,7% de sua receita comercial em março e 18,1% em abril. A participação dos EUA, nesses meses, foi de 10,7% e 10,9%. Entre os mercados mais importantes para as exportações brasileiras, o americano passou do primeiro para o segundo lugar. Depois de uma forte retração no quarto trimestre do ano passado, a economia chinesa ganhou impulso no começo de 2009 e seu PIB deve crescer a uma taxa anualizada de 7% neste trimestre, segundo estimativa oficial. Essa foi uma das notícias festejadas pelos operadores das bolsas de valores na segunda-feira. Mas essa estimativa não é uma grande novidade. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta para a China 6,5% de crescimento neste ano e 7,5% no próximo. Em 2008, a expansão ficou em 9%, depois de se manter por muitos anos acima de 10%. A economia chinesa, como outras da Ásia, tem sido afetada pela redução dos negócios nos EUA e na Europa. A contração dos maiores mercados ocidentais prejudicou as exportações chinesas e causou o fechamento de milhares de fábricas. Apesar disso, o país mantém um crescimento econômico invejável e voltou a demandar volumes expressivos de matérias-primas e bens intermediários. Para a Índia, o FMI calcula um crescimento de 4,5% neste ano, bem inferior ao do ano passado (7,5%), mas ainda robusto. A Índia é uma economia mais fechada ao comércio internacional, mas vulnerável à redução do crédito e dos investimentos internacionais. Para o conjunto da Ásia, incluído o Japão, o Fundo projeta uma expansão de 1,3% em 2009 e uma retomada em 2010, com um crescimento de 4,3%. Os efeitos da crise global no Brasil têm sido menos graves do que na maior parte dos países emergentes e desenvolvidos. O país não ficou imune aos efeitos da recessão, mas, por enquanto, a retração dos negócios não se traduziu num grande drama social. No entanto, ninguém deve julgar-se numa ilha de prosperidade. As exportações são relevantes não só para manter a solidez das contas externas, mas também para movimentar um amplo conjunto de atividades interligadas. Por isso, é insuficiente contar com o mercado chinês e os formuladores da política econômica deveriam levar em conta esse dado.