19 de março de 2010 | 00h00
O governo chinês tem sido acusado há anos de manipular o câmbio para manter o yuan desvalorizado, apesar dos enormes superávits nas contas externas do país. A China tem hoje reservas cambiais equivalentes a US$ 2,3 trilhões, formadas em grande parte por títulos públicos americanos. Senadores dos Estados Unidos propuseram classificar a China como um país manipulador do câmbio para obter vantagens comerciais. Isso dará a deixa para o governo federal impor sobretaxas à importação de produtos chineses.
Os atritos entre os governos americano e chinês têm-se multiplicado recentemente, tanto por motivos comerciais como por divergências políticas. A imposição de mais uma barreira aos produtos da China aumentará a tensão entre os dois países.
Valerá a pena? Segundo os economistas Dan Newman e Frank Newman, será um lance inútil. Segundo eles, a China tomou o espaço do Japão e de outras economias da Ásia ao ampliar suas exportações para o mercado americano. Os Estados Unidos já eram amplamente deficitários e o aumento da presença chinesa não foi a grande causa de perdas para a indústria local.
Entre 1995 e 2007, a participação japonesa na produção mundial de bens diminuiu 6 pontos porcentuais, enquanto a chinesa aumentou 7 pontos, de acordo com a argumentação. Dan Newman é um pesquisador econômico em Seattle. Frank Newman é o executivo principal do Banco de Desenvolvimento de Shenzen, uma instituição chinesa, e ex-secretário adjunto do Tesouro americano.
Dificilmente essa argumentação mudará o ponto de vista do governo dos Estados Unidos. A administração americana tem amplo apoio internacional em sua tentativa de persuadir as autoridades chinesas a deixar o yuan valorizar-se. Nos últimos dias, economistas do Banco Mundial sugeriram polidamente uma alta de juros e uma política de câmbio mais flexível para o controle da inflação ? um problema ainda não muito grave.
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, tem defendido a adoção, pelo governo chinês, de uma estratégia de crescimento mais voltada para dentro e menos dependente de exportações. Uma inovação completa envolveria a alteração do câmbio, mas Strauss-Kahn não precisaria repetir o recado com todas as palavras.
A valorização do yuan acabará ocorrendo, têm dito as autoridades chinesas, mas sem dar prazo. A mudança ocorrerá ? respondem aos americanos ? na hora escolhida pelo governo chinês. Por enquanto, o yuan continua oscilando juntamente com o dólar e neutralizando os movimentos da moeda americana.
Talvez Dan Newman e Frank Newman estejam certos em relação aos Estados Unidos. Mas outros países ganharão, sem dúvida, se os chineses deixarem valorizar-se o yuan. O Brasil será um dos beneficiários. Mas o poder de competição da indústria chinesa não depende só do câmbio. Quem acreditar nisso cometerá um erro grave e perigoso.
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