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Brasil, destaque no pessimismo

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Por Redação
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O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda vai ter muito trabalho para restabelecer a confiança de empresários e investidores, a julgar pela última sondagem de expectativas conduzida na América Latina pelo instituto alemão IFO em parceria com Fundação Getúlio Vargas (FGV). O clima econômico piorou na maior parte da região, no trimestre encerrado em abril, e o Brasil se destacou mais uma vez pelo pessimismo das avaliações quanto aos seis meses seguintes. O mau humor dos especialistas consultados combina muito bem com os dados econômicos mais recentes – baixo crescimento, inflação elevada e contas públicas ainda em mau estado – e com as projeções e indicadores produzidos por entidades multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A economia mundial deve continuar em recuperação, segundo os cenários divulgados por essas instituições desde o final do ano passado. Pelas últimas projeções da Comissão Europeia, publicadas há cerca de uma semana, a União Europeia deve crescer 1,8% neste ano, pouco mais que no ano passado (1,4%), e 2,1% em 2016. A expansão dos Estados Unidos deve passar de 2,4% em 2014 para 3,1% neste ano e 3% no próximo. A China deve desacelerar, mas deve manter um ritmo de 7% em 2015 e acomodar-se em 6,8% em 2016. 

A OCDE acaba de publicar um novo panorama baseado em indicadores antecedentes, isto é, sinalizadores de tendências. Os dados apontam ganho de impulso na zona do euro, crescimento mais suave nos Estados Unidos e na China e perda de vigor no Brasil. Pode haver alguma divergência entre os diferentes conjuntos de avaliações, mas em todos a economia brasileira se destaca pelo baixo desempenho e pela piora de suas perspectivas. As últimas projeções do FMI, mais pessimistas em relação ao País, indicam para o Brasil uma contração de cerca de 1% neste ano e uma expansão de 1% em 2016 – dois anos, portanto, de crescimento nulo.

Na sondagem do instituto IFO, a economia global deve crescer 2,3% este ano, com taxas de 2,7% para Estados Unidos, 1,7% para União Europeia, 1,2% para Japão, 6,8% para China e 7,4% para Índia. A média prevista para a América Latina é 1,3%, muito baixa para um conjunto de países em desenvolvimento. A sondagem cobriu dez países da região. Os melhores desempenhos foram projetados para Bolívia (4,7%), Paraguai (4%) e Colômbia (3,4%). Os três piores, sem surpresa, foram estimados para Venezuela (–4,2%), Brasil (-0,9%) e Argentina (-0,6%).

O trio Brasil, Argentina e Venezuela tem-se destacado em outros cenários pelos números muito ruins de crescimento e de inflação, pelo mau estado das contas públicas e pela má avaliação de suas perspectivas.

Na sondagem IFO-FGV, Argentina, Brasil e Venezuela, nessa ordem, ocupam as últimas posições no indicador de clima econômico. Só em quatro dos 11 países foram encontradas avaliações positivas: Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia. No Uruguai o resultado foi neutro. Esse indicador é a média das avaliações do quadro econômico presente e da evolução esperada para os seis meses seguintes.

Os especialistas consultados no Brasil mostraram-se bem mais pessimistas que os da maior parte dos outros países quando apontaram os principais problemas. Nessa parte da pesquisa, foram atribuídas notas de 1 a 9 para indicação de gravidade. No item “falta de confiança na política econômica”, a média da América Latina, sem o Brasil, foi 6,2%. A nota atribuída pelos brasileiros foi 7,8%. Mudar essa avaliação é um desafio crucial para a equipe econômica. As notas brasileiras também foram piores que a média dos demais países nos itens inflação, falta de competitividade internacional, falta de mão de obra qualificada e déficit público. Em relação a esses itens, a preocupação, pelo menos qualitativamente, parece coincidir com a da equipe econômica – e esse é um dado positivo. Mas o quadro se complica para as autoridades, com a falta de confiança na política.