12 de julho de 2014 | 02h06
A decisão de agir para conter o câmbio foi tomada há cerca de um ano, quando o dólar disparou em todo o mundo. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) havia anunciado, para breve, uma diminuição gradual dos estímulos à recuperação da economia americana. A emissão de moeda seria reduzida e, portanto, a oferta de dólares cresceria mais lentamente. Os mercados anteciparam a valorização e o Brasil foi um dos emergentes mais afetados pela nova onda. O consequente aumento dos preços de importação logo foi incluído pela autoridade monetária na lista dos desafios urgentes.
Para enfrentar esse problema, o BC tem atuado no mercado cambial por meio de operações de swap, equivalentes à venda de dólares no mercado futuro. A autoridade monetária intervém no câmbio, normalmente, para impedir grandes oscilações em prazo muito curto, em geral perturbadoras. Mas a ação iniciada há cerca de um ano, como resposta à mudança na política americana, teve claramente um objetivo mais estrito - impedir ou, no mínimo, limitar o efeito inflacionário da valorização da moeda americana.
Ao manter essa estratégia por longo tempo, o BC assumiu o risco de prejudicar as contas externas. O câmbio é só um dos fatores de competitividade. Nos países mais eficientes, nem é o mais importante. Pesam muito mais a produtividade da mão de obra, a capacidade de inovação, a qualidade da produção, a tributação bem calibrada e a eficiência da infraestrutura. O Brasil perde em todos esses quesitos. Por isso, o câmbio tem uma importância excepcional para os empresários brasileiros. Os mais afetados são em geral os da indústria de transformação.
A excessiva dependência do câmbio para competir internacionalmente é com certeza uma distorção, mas outras igualmente importantes afetam a política econômica. Afinal, por que o BC tem de dar tanta importância ao dólar em sua política anti-inflacionária? Em outros países, a estabilidade de preços é garantida por outros fatores, em geral mais importantes que o câmbio.
O manejo responsável das finanças públicas é um desses fatores. Em países com melhor tradição no campo fiscal as contas públicas têm menor impacto inflacionário que no Brasil. As autoridades brasileiras têm sido incapazes de controlar a própria gastança e de usar com sabedoria os incentivos fiscais e as políticas de rendas. Têm pouca credibilidade e suas intervenções na formação dos preços em geral são desastrosas.
Sem contar de fato com a contribuição do governo, o BC tem de cuidar sozinho da inflação. Seu principal instrumento, a política de juros, parece estar congelado. Será uma surpresa se houver nova alta neste ano ou, pelo menos, antes das eleições. Isso aumenta a importância da intervenção no câmbio, embora o resultado seja modesto, em termos de contenção dos preços, e o custo para as contas externas possa ser elevado.
Um dos pressupostos para a manutenção dos juros em 11%, segundo o BC, é uma taxa de R$ 2,25 por dólar no fim do ano. Há cinco semanas o mercado sustenta a projeção de R$ 2,40, indicando claramente a percepção de um grave desajuste. O desajuste maior, obviamente, está na política econômica, mas este muito dificilmente será eliminado neste ano ou no próximo.
Encontrou algum erro? Entre em contato