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Campeão de vulnerabilidade

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Por Redação
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O Brasil é o emergente mais vulnerável a choques internacionais, segundo analistas do Morgan Stanley, um dos maiores bancos de investimento do mundo, e continua nas listas dos mais vulneráveis elaboradas por outros grandes grupos. A maior estatal brasileira, a Petrobrás, foi rebaixada ao nível especulativo por uma das três principais agências de classificação de risco, a Moody's. A equipe econômica batalha para impedir a redução da nota de crédito soberano. Mas a presidente Dilma Rousseff mal se permite reconhecer os problemas econômicos do País. "É verdade que o Brasil passa por um momento difícil", disse ela em São Paulo a empresários da construção, "mas nem de longe estamos vivendo uma crise das dimensões que alguns estão dizendo". Quem são, afinal, esses "alguns"? Como ela se absteve de nomeá-los, fica difícil de saber se a relação inclui os maiores bancos do mundo, as grandes agências de classificação de crédito, as instituições financeiras internacionais, publicações de prestígio, como a revista The Economist, e boa parte dos economistas, nacionais e estrangeiros, mais informados sobre a economia brasileira. Seja como for, todas essas fontes têm descrito a situação do Brasil em termos bem menos otimistas que os habitualmente usados pela presidente Dilma Rousseff. Mesmo os analistas mais diplomáticos apontam muito mais que as "incertezas conjunturais" mencionadas pela presidente. Os mais diretos, como o pessoal da revista britânica, descrevem o Brasil como um país afundando num atoleiro. Em 2013, o Morgan Stanley publicou uma lista de "cinco frágeis": Turquia, Brasil, Índia, África do Sul e Indonésia. Seriam os emergentes mais vulneráveis a certas alterações no mercado internacional. A Índia foi substituída pelo México na relação divulgada nessa semana. A economia indiana parece uma das mais dinâmicas do mundo, neste momento. No último trimestre de 2014, seu Produto Interno Bruto (PIB) foi 7,5% maior que um ano antes. Quando saiu a primeira lista dos "cinco frágeis", em 2013, já havia começado a mudança da política monetária americana, depois de anos de forte estímulo ao crédito. Além disso, já se discutia um provável aumento dos juros. Depois disso, as condições de financiamento já ficaram mais apertadas no mercado internacional, mas os juros básicos americanos ainda vão subir. A primeira alta, segundo analistas qualificados, deve ocorrer em 2015. Nos últimos dois anos o real esteve entre as moedas mais desvalorizadas em relação ao dólar - um sinal inequívoco de fragilidade. Em 12 meses, a alta passou de 20%. Não há segredos quanto aos motivos de desconfiança. Em termos técnicos, é fácil de apontar a deterioração das contas externas como um fato inquietante, mas o quadro inclui muitos outros elementos negativos. O endividamento do setor privado em moeda estrangeira, a desaceleração da China, maior mercado para as commodities brasileiras, e a paralisação das reformas são fatores apontados pelo pessoal do Morgan Stanley. A economista Louie Valentin, do banco SEB, de Estocolmo, foi mais longe, segundo o Estado. Além do fraco crescimento econômico brasileiro e da expectativa de juro maior nos Estados Unidos, ela mencionou a seca prolongada, o possível racionamento de energia elétrica, o risco de rebaixamento da nota de crédito, a corrupção e as preocupações quanto à capacidade do governo de arrumar as contas públicas. A reportagem cita o chefe de investimento global do UBS, em Zurique, e sua lista dos mais vulneráveis. A relação do economista Mark Haefele coincide com a do Morgan Stanley. A economia brasileira pouco tem avançado e dificilmente deve crescer em 2015, enquanto os Estados Unidos continuam em firme recuperação e a Europa se apruma e dá sinais de reativação. A maior parte dos emergentes, mesmo com alguma perda de impulso, continua com desempenho muito melhor que o do Brasil. Todos os números conhecidos internacionalmente confirmam esse quadro. Mas a presidente Dilma Rousseff insiste em atribuir uma visão negativa a "alguns".