
26 de janeiro de 2016 | 02h55
Pior fez o ministro Miguel Rossetto ao afirmar que o péssimo resultado do Caged em 2015, abaixo do esperado pelo governo, não foi ruim para o trabalhador. “A crise não foi capaz de destruir as conquistas dos trabalhadores nos últimos anos”, afirmou. Não será fácil convencer disso os milhões de trabalhadores demitidos – que passaram a fazer parte da lista dos 9 milhões de brasileiros que procuram emprego, segundo dados mais amplos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e suas famílias.
Os números do emprego formal – o de melhor qualidade no mercado de trabalho brasileiro, pois oferece remuneração mais alta e assegura aos empregados garantias legais, como férias e direito de acesso à previdência social, além de melhores ambientes de trabalho – são apenas os mais recentes que demonstram a rápida deterioração das condições da economia brasileira.
A piora do cenário vem sendo notada desde meados do primeiro mandato de Dilma Rousseff, mas o desastre político, administrativo e fiscal que marcou o início do segundo mandato impulsionou o processo. No ano passado, a economia deve ter encolhido de 3,5% a 4%, a inflação oficial foi de 10,71% (mais do dobro da meta de 4,5%) e o déficit público nominal no fim de novembro equivalia a 9,3% do PIB (muito superior à media dos resultados dos países em desenvolvimento).
Embora seja por si só impressionante, o número de postos de trabalho formais fechados no ano passado não é a única informação negativa do Caged. O mercado de trabalho perdeu qualidade, pois, por setor da economia, a maior perda de vagas ocorreu na indústria de transformação. Trata-se do segmento que, por suas especificidades, exige profissionais mais qualificados e, por isso, oferece salários mais altos. No ano passado, a indústria de transformação fechou 608.878 vagas com carteira assinada. Entre os setores que mais empregam, a construção civil fechou 416.959 postos; o setor de serviços, 276.054; e o comércio, 218.650.
Consequência previsível da rápida deterioração do mercado de trabalho, a remuneração real média encolheu. No ano passado, os salários médios de admissão tiveram queda real de 1,63% em relação ao ano anterior: caíram de R$ 1.291,86 para R$ 1.270,74, de acordo com o Caged. Outras pesquisas indicam que em 2016 a renda média continuará a cair, entre elas a feita pela Fipe-USP, mostrando que os acordos de negociação salarial concluídos em dezembro não conseguiram corrigir integralmente os salários. Ou seja, a renda dos trabalhadores abrangidos por esses acordos terá queda real.
É surpreendente que, decerto dispondo de informações como essas – pois elas são essenciais para o desempenho de sua função pública –, o ministro do Trabalho e Previdência ainda afirme que o mercado formal de trabalho “mostra resistência, porque preserva o poder de compra muito próximo à inflação”. Otimista diante do cenário desastroso que afeta a vida de milhões de brasileiros, Miguel Rossetto fala em possível “reversão do cenário negativo”, pois a prioridade do governo, como garante, é a recuperação do crescimento e da geração de empregos, “com mais crédito, exportação, investimentos nas concessões, especialmente na infraestrutura, redução da inflação e retomada da atividade do mercado interno”.
Com um governo que se alimenta de sonhos será mais difícil para o País retomar o caminho do crescimento e da geração de empregos.
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