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Cenário animador para o G-20

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Por Redação
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Haverá motivos para otimismo na próxima reunião de cúpula do G-20, marcada para os dias 24 e 25 em Pittsburgh. A pior fase da crise global deve ter passado, a recuperação pode começar antes do previsto e até os presidentes de bancos centrais já se mostram menos sombrios. Os chefes de governo ainda mostrarão cautela. Prometerão manter as políticas de estímulo até os sinais de reativação se tornarem mais firmes, mas poderão fazer um balanço financeiro das medidas tomadas até agora. Além disso, estarão preparados para falar mais seriamente do que nos últimos encontros sobre um novo esforço para concluir a Rodada Doha de negociações comerciais. Poderão até, num arroubo de entusiasmo, fixar o prazo de um ano para sua conclusão. Dois encontros ministeriais, um na Inglaterra, outro na Índia, foram programados como preparação para a conferência de chefes de governo. Ministros de Finanças reuniram-se em Londres para discutir, na sexta-feira e no sábado, o quadro econômico geral, as ações anticrise e planos de reforma do sistema financeiro e das instituições multilaterais. É cedo, concordaram, para desmontar os esquemas de estímulo fiscal e monetário e deixar a economia funcionar sem o apoio do governo. Já é hora, segundo alguns ministros, de pensar seriamente na estratégia de retirada, porque o combate à recessão elevou o déficit fiscal e aumentou a dívida pública. Mas nem todos se mostram igualmente preocupados. O assunto, de toda forma, entrará na pauta da conferência de cúpula. Em geral, não havia razão para se esperar grandes novidades do encontro realizado em Londres. A reunião ministerial de Nova Délhi produziu alguns resultados inesperados. Começou num ambiente de muito ceticismo. No primeiro encontro de cúpula do G-20, em novembro do ano passado, os chefes de governo prometeram retomar as negociações da Rodada Doha e evitar durante um ano medidas protecionistas. Esse discurso foi repetido na segunda reunião de líderes, no começo de abril. A rodada continuou paralisada, multiplicaram-se as barreiras, algumas ilegais, outras não, e os governos do mundo rico aumentaram os subsídios à agropecuária. Num cenário desses, como esperar uma séria iniciativa a favor da rodada global? Além disso, o novo governo americano havia emitido sinais pouco animadores para as economias emergentes. O recém-nomeado negociador comercial de Washington, Ron Kirk, aumentou a pressão para o Brasil, a China, a Índia e outros grandes emergentes abrirem mais seus mercados à importação de bens industriais. Propôs, além disso, reabrir pontos já discutidos na Rodada Doha e dar mais peso, nessas negociações, a entendimentos bilaterais.A maior surpresa de Nova Délhi foi a nova atitude exibida pelo representante americano. Ele se dispôs a retomar as negociações com base nos pontos acertados até 2008 e resumidos, no fim do ano, em mais um rascunho de acordo. Esse rascunho contém muitos pontos vagos e sobra muito espaço para definições e para novos compromissos, comentou Kirk. É verdade, mas, apesar dos pontos vagos, houve avanços importantes, desde o início da rodada, em compromissos relativos, por exemplo, à eliminação de subsídios à agricultura. Reabrir todo o debate implicaria não só uma perda de tempo, mas o risco de mudança de rumo nas negociações, com prejuízos para as economias em desenvolvimento.No encontro de Nova Délhi não se discutiram questões específicas a respeito de agricultura, indústria, serviços e regras. Mas parecem ter sido afastados alguns obstáculos importantes à reativação da Rodada. "Houve um avanço importante neste encontro", disse o ministro do Comércio e da Indústria da Índia, Anand Sharma, anfitrião da conferência. "Foi demonstrada uma real vontade política e temos de continuar esta iniciativa", comentou a comissária de Comércio da União Europeia, Catherine Ashton. Segundo ela, "2010 é absolutamente factível". Sobram desacordos em relação a pontos importantes e mesmo entre os emergentes há divergências quanto à abertura de mercados para produtos agrícolas e industriais. Os ministros voltarão a reunir-se em Genebra, no dia 14. Há muito trabalho pela frente e a negociação ainda será difícil, mas o impasse parece ter sido superado. É um ingrediente animador para a pauta política da conferência de Pittsburgh.