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Cenário melhor

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Por Redação
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Projeção recém-divulgada pela FAO, o órgão das Nações Unidas que trata de agricultura e alimentação, prevê uma quebra de 10,3% da safra brasileira de grãos, por causa da estiagem que prejudicou as plantações em novembro e dezembro, mas as estatísticas mais recentes do governo brasileiro indicam que a perda poderá ser menor. Com relação ao rendimento dos produtores, uma combinação favorável de preços em alta e de mau desempenho de alguns grandes competidores do Brasil deverá proporcionar resultados não muito diferentes dos alcançados na safra anterior. Perto do que se previa no fim do ano passado, não é um quadro ruim. O campo não vive um cenário de festas, ressalve-se. Grandes mercados continuam abalados pela crise. Nos países industrializados, a produção cai, o desemprego aumenta, o que afeta a renda e alimenta o pessimismo dos consumidores. No plano interno, pesquisas da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram um número muito alto de produtores endividados, o que reduz sua disposição de investir e sua capacidade de tomar empréstimos. Ainda não voltaram os financiamentos das grandes empresas exportadoras, que custeavam boa parte da safra. Os milhares de postos de trabalho fechados no campo nos últimos meses não foram reabertos. Mas o quadro é visivelmente melhor do que o observado há alguns meses. A cada nova pesquisa do governo, a previsão de quebra da safra se reduz. Em fevereiro, o relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previa redução de 6,5% na safra 2008/2009, na comparação com a anterior. O forte impacto da crise internacional sobre a economia brasileira surpreendia o governo e os produtores, as projeções eram muito negativas e o próprio ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, advertia que a redução poderia ser ainda maior. A queda da produção prevista no relatório mais recente é de 4,5%. Os preços subiram no exterior e, no mercado interno, o clima - que tanto afetou a lavoura no Sul e no Centro-Oeste no fim de 2008 e no começo deste ano - melhorou e a colheita, já em fase final, está sendo melhor do que a prevista, o que deve melhorar o ânimo dos produtores com relação ao plantio da nova safra, que começará no terceiro trimestre. Analistas do mercado agrícola ouvidos pelo jornal Valor descrevem um quadro favorável. "O setor agrícola deve ter um ano satisfatório, sobretudo se compararmos a situação atual com o quadro de horror pintado no fim de 2008", disse Fábio Silveira, da RC Consultores. "De um modo geral, a safra 2008/09 está sendo remuneradora, o que fortalece, mas não garante, a expectativa de que a próxima temporada seja boa", previu Alexandre Mendonça de Barros, da MB Associados e do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV. A quebra da produção de soja, milho e trigo da Argentina, por causa da seca que foi muito grave naquele país, associada à alta das importações chinesas, fez subir a cotação desses produtos. A Bolsa de Chicago, influenciada também pelas previsões de plantio da safra americana de 2009/2010, registrou em março, para esses três produtos, cotações melhores do que as de fevereiro e bem acima da média histórica, embora bem abaixo dos recordes observados em meados do ano passado, antes do agravamento da crise internacional. O Ministério da Agricultura prevê que a produção de soja renderá para os agricultores R$ 43,9 bilhões, mais do que os R$ 42,9 bilhões que previa em fevereiro e mais até do que o rendimento obtido em 2008, de R$ 43,4 bilhões. Para o milho, a previsão de renda também é melhor do que a feita em fevereiro, mas ainda quase 25% inferior à do ano passado. No caso do arroz, produto cujo mercado interno é pouco influenciado pelas oscilações internacionais, tanto a produção como a renda devem crescer, por causa da demanda interna, que continua firme. Menos endividados, porque o crédito ficou muito escasso, e com o rendimento próximo ao que obtiveram na safra passada, os produtores podem recuperar na próxima safra parte do volume que perderam nesta, na qual se observou menor uso de tecnologia. Se investirem em insumos, poderão alcançar também maior produtividade e rendimento ainda melhor.