
14 de janeiro de 2015 | 02h05
Os entendimentos entre Haddad e Chalita, com as bênçãos e a inspiração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, começaram há cerca de um mês e fazem parte das articulações políticas destinadas a facilitar a reeleição do prefeito no próximo ano, como mostra reportagem do Estado. O acordo pode levar a uma chapa que teria Chalita como candidato a vice. Que ele tenha aquilo que para o PT em princípio seria um estigma - ter sido figura de destaque no governo tucano de Geraldo Alckmin, como secretário de Educação - já não parece ter importância para Haddad e seus companheiros.
Para nos limitarmos aos fatos mais recentes relativos à falta de pudor com que o PT, tão logo chega ao poder, se alia aos que desancava no passado e àqueles ocorridos no âmbito municipal, recorde-se a aliança Lula/Maluf/Haddad. Na ânsia de eleger Haddad, na época um simples poste como se diz na gíria política, o ex-presidente não hesitou em buscar o apoio de seu arqui-inimigo e símbolo maior da pouca seriedade - digamos assim, apelando para uma fórmula benevolente - no trato das coisas públicas, e por isso mesmo campeão de processos na Justiça
A foto dos três sorridentes e de mãos dadas, uma exigência impiedosa de Maluf, consagrou o acordo e marcou para sempre a biografia de Lula. Guardando as devidas diferenças e dimensões, deve-se dizer que o caso Chalita é café pequeno. O que incomoda nesse episódio não são tanto as denúncias de enriquecimento ilícito contra Chalita, pois elas foram arquivadas pela Justiça por falta de provas - por elas, ele não deve nada. O que incomoda é a falta de pudor do PT na montagem de alianças - foi no ninho de seus inimigos tucanos que Chalita adquiriu notoriedade. Afinal, embora a essa altura de suas traficâncias políticas e das graves suspeitas que pesam sobre seu comportamento em casos cabeludos não lhe deva restar muito pudor, ele continua a posar de moralista.
O importante mesmo é o preço que os paulistanos poderão pagar pelo despudor. A competência profissional de Chalita, a julgar pela sua passagem pela Secretaria Estadual da Educação, está longe de ser ponto pacífico. O presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Cláudio Fonseca, diz ver com apreensão a escolha de Chalita, pois "sua atuação na rede estadual foi contestada". Por isso, "ele vai ter trabalho para convencer que é a pessoa para esse momento de mudança".
Para outro especialista, a consultora Ilona Becskeházy, o critério que orientou a mudança de comando na Secretaria foi errado: "Esse arranjo político, e não o desenho de política pública, não funciona mais". E Salomão Ximenes, da organização Ação Educativa, se diz preocupado principalmente com a educação infantil, pois "o Callegari (o atual secretário, Cesar Callegari) se colocava aberto ao diálogo com as instituições que tratam do tema".
Aliás, Callegari, um técnico respeitado, foi a primeira vítima da mudança, não propriamente porque perdeu o cargo, mas pela situação constrangedora em que o deixou Haddad. Foi pela imprensa que ele soube da escolha de Chalita.
Esse é só mais um na sucessão de fatos que demonstram serem os conchavos e acordos, bem à moda antiga, o que orienta a ação de Lula e de Haddad, preocupados antes de tudo com a preservação do poder a todo custo, não com o uso que se deve fazer dele em benefício da população.
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