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Claro e escuro nas projeções

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Por Redação
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Há sinais de melhora – ainda tênues, mas importantes para o governo – nas expectativas do mercado financeiro em relação à alta de preços. Para o consumidor ainda haverá muita notícia ruim nos supermercados, nas lojas e nas contas de luz e de outros serviços básicos, nos próximos dois anos, mas o horizonte poderá ficar menos sombrio, pouco a pouco, segundo as bolas de cristal dos especialistas. A inflação só encostará na meta de 4,5% em 2017, um ano depois do prazo prometido pelo Banco Central (BC), de acordo com o mercado. Ainda assim, as projeções coletadas na última sexta-feira, na pesquisa Focus, a consulta semanal do BC a cerca de cem instituições, indicaram uma ligeira, mas positiva, mudança de humor.

Para este ano, a mediana das projeções ficou em 9,32%, o mesmo número da semana anterior. É uma taxa muito elevada, mas pelo menos a escalada se interrompeu. Para o próximo ano, a estimativa ficou praticamente estável, com a ligeira variação de 5,43% para 5,44%. A expectativa para 2017 bateu em 4,55%, atingindo a meta quase com precisão.

Na maior parte dos casos, seria possível prever dois conjuntos de benefícios para as famílias, mas o quadro brasileiro é particularmente ruim. Com inflação menor, o risco de corrosão da renda será menor, mas isso dependerá das condições de emprego. Com inflação menor, há espaço para um aperto monetário menos violento, e isso está nas previsões. Em princípio, um aperto menor, com juros menores e crédito mais fácil, pode favorecer os negócios e a criação de empregos. Mas as projeções do nível de atividade continuam muito ruins, mesmo com a possibilidade de juros menores.

O alívio monetário, com redução dos juros básicos, deverá começar em abril do próximo ano, segundo os economistas do mercado financeiro. A expectativa de mudança nessa época já havia aparecido em consultas anteriores. Mas a nova projeção indica uma queda mais veloz. A redução estimada para abril passou de 0,25 para 0,50 ponto porcentual. Isso deverá levar a taxa básica, a Selic, de 14,25% para 13,75%. A queda deverá continuar. Para novembro de 2016, a mediana das projeções indica 11,88%, pouco abaixo do nível estimado anteriormente (12%).

Apesar das estimativas mais favoráveis de inflação e de juros, a economia deverá continuar muito fraca, segundo as avaliações coletadas na pesquisa. Pela mediana das projeções, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuirá 2,10% neste ano. A redução calculada era de 1,97% na sondagem anterior. Para 2016, a estimativa passou de crescimento nulo para uma contração de 0,15%.

As condições dos negócios continuarão desfavoráveis, portanto, à abertura de vagas e à expansão da massa de salários. Faltam detalhes sobre as condições de produção na pesquisa Focus. Mas o investimento produtivo continua muito baixo, a demanda de máquinas e equipamentos deve permanecer muito reduzida, a execução do orçamento ainda será apertada e o potencial de crescimento, por esses e por outros fatores, deve ser extremamente limitado ainda por longo tempo. As projeções do mercado provavelmente refletem a percepção desses problemas.

Mas falta levar em conta os possíveis efeitos inflacionários de fatores incontroláveis pelo governo. Ainda se espera, para este ano, um aumento de 15,20% para os preços administrados, como os da eletricidade e dos combustíveis. A projeção para 2016 passou de 5,90% para 5,92%. Já esteve em 5,96% e, de toda forma, continua muito alta. Mas a alta efetiva dependerá de fatores como as condições de geração de eletricidade e a evolução dos preços internacionais do petróleo. Também é preciso levar em conta as consequências do esperado aumento dos juros americanos e seus reflexos na política nacional de juros.

Enfim, os fatos serão determinados também pelas decisões das agências de classificação de risco. Se o crédito brasileiro for rebaixado ao grau especulativo, tudo poderá ficar mais difícil. Esse jogo dependerá, em boa parte, da cooperação entre os Três Poderes.