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CNI corrige as distorções

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Por Redação
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Ao afirmar que o Brasil vive uma realidade "nunca antes vista" - pois é composto de pessoas alegres e felizes e trilha um caminho diferente do percorrido pelos países europeus, que o levará a se "transformar em uma das maiores nações do mundo" -, a presidente Dilma Rousseff demonstrou, mais uma vez, que vê a situação do País de modo diverso da maioria dos brasileiros, cada vez mais atormentados pelos efeitos da crise mundial sobre suas vidas.Dê-se um certo desconto aos exageros verbais da presidente, pois ela discursou no clima de festa política que marcou a cerimônia de batismo da Plataforma P-59 da Petrobrás na Bahia. Com certo tom de nostalgia, ela aproveitou a ocasião para homenagear seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva - lembrado também por expressões frequentemente empregadas por ele - por sua "teimosia" em demonstrar que o País pode produzir equipamentos como o que estava sendo batizado. Na essência, porém, seu pronunciamento na Bahia repete o que ela vem dizendo há tempos e que mostra sua baixa capacidade de percepção do que acontece e dos poucos e praticamente imperceptíveis efeitos das medidas que seu governo vem adotando para reativar a economia.Além da valorização do dólar, que encarece as importações e estimula as exportações, ela citou novamente a redução dos juros e apontou para a possibilidade de redução de impostos, como importantes estímulos para o consumo da população.A maior dificuldade que a economia brasileira enfrenta e que vem contendo seu desempenho, no entanto, não é a demanda em baixa, como entende o governo, que, por isso, concentra seu esforço em medidas que a estimulem. A crise está acentuando uma conhecida deficiência estrutural para a qual o governo - perdido no emaranhado de ações de curto prazo - não dá nenhuma atenção: a baixa competitividade, sobretudo do setor industrial, que abre espaços para a entrada crescente de produtos importados no País e dificulta a reação do setor produtivo.Ao destacar esta característica dos problemas atuais do País, o Informe Conjuntural da Confederação Nacional da Indústria (CNI) reconhece que as medidas do governo de apoio à demanda, em especial as de natureza fiscal (redução de impostos sobre determinados produtos e aumento de gastos públicos em alguns setores), embora possam ter algum efeito sobre a atividade econômica, "se mostram insuficientes para conter o processo de desaquecimento e iniciar um novo ciclo de crescimento e de retomada da atividade industrial". O resultado, por isso, não poderia ser diferente do que é apresentado no Informe. A CNI reviu para baixo suas principais projeções. Até o Informe anterior, ela previa que, em 2012, o PIB cresceria 3%, um pouco acima do resultado de 2011 (aumento de 2,7%). Agora, prevê crescimento de, no máximo, 2,1%. Para o PIB industrial, a previsão foi reduzida de 2% para 1,6%. A redução mais acentuada foi para os investimentos produtivos. Note-se que, para o PIB alcançar o crescimento previsto pela CNI, será necessário que o desempenho da economia no segundo semestre seja bem melhor do que no primeiro.O que pouco ou nada funcionou até agora perderá eficácia, pois dados recentes mostram alto nível de endividamento das famílias e aumento dos índices de inadimplência, o que desestimula o consumo."É necessário aproveitar essa oportunidade para promover um choque de competitividade que induza a um aumento substantivo na taxa de investimento", recomenda a CNI. Para isso, o governo deveria concentrar esforços na expansão dos investimentos em infraestrutura - na maior parte de sua responsabilidade -, o que reduziria os custos de transporte e logística e aumentaria a eficiência do setor produtivo. Na parte política, administrativa e institucional, deveria reduzir a burocracia, melhorar o sistema tributário, estimular os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e reduzir os custos trabalhistas, entre outras medidas. No entanto, quando consegue enxergar a realidade, o governo não vê além do curto prazo.