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Comendo poeira dos europeus

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Por Redação
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Com o Brasil crescendo menos que a maior parte dos países, tanto emergentes quanto desenvolvidos, fica mais difícil culpar o resto do mundo pela estagnação brasileira - um recurso usado amplamente pela presidente Dilma Rousseff. A nova má notícia para quem usa esse tipo de discurso acaba de chegar da Europa. Segundo a Comissão Europeia, o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro deve crescer 1,3% neste ano e o da União Europeia, 1,7%. Nas duas projeções houve um aumento de 0,2 ponto porcentual em relação aos números estimados há seis meses. Se os fatos confirmarem a expectativa, a produção crescerá nos 28 países do bloco europeu pela primeira vez desde 2007, ano anterior à crise iniciada no setor financeiro com o estouro da bolha imobiliária. Para 2016, as projeções são de 1,9% de expansão para a área do euro e de 2,1% para o bloco total. As projeções de crescimento na União Europeia, em 2015, variam de 0,2% para a Croácia a 3,5% para a Irlanda, mesma taxa estimada para a economia americana, a maior do mundo. Até a Croácia terá desempenho melhor que o do Brasil. O PIB brasileiro deverá aumentar 0,03% neste ano, segundo a mediana das projeções coletadas pela pesquisa Focus, conduzida semanalmente pelo Banco Central (BC). Cerca de cem instituições são consultadas nessa sondagem. O Brasil aparece com perspectivas pouco melhores, mas nada entusiasmantes, em outros conjuntos de projeções. As últimas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas no fim de janeiro, indicaram expansão de 1,2% para a zona do euro (pouco inferior ao novo número da Comissão Europeia) e de 0,3% para o Brasil. Naquele momento, as previsões dos economistas brasileiros também eram mais otimistas, apesar de muito sombrias. Em qualquer dos cenários divulgados a partir do último trimestre de 2014, o País aparece entre os últimos colocados na corrida internacional do crescimento econômico - e sempre com taxas muito próximas de zero. As novas estimativas da Comissão Europeia são justificadas com três fatores: a redução do preço do petróleo, o novo Plano de Investimento da Europa e a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de continuar afrouxando a política monetária. A nova etapa dessa política deve incluir a emissão de até 1,1 trilhão, em cerca de um ano e meio, por meio da compra de títulos soberanos e de papéis privados. A inflação deve continuar muito baixa este ano. Em 2016, poderá atingir 1,3% na zona do euro e 1,4% na União Europeia. Até lá, haverá espaço para o BCE manter uma política expansionista. No Brasil, a situação dos preços é muito diferente. O BC elevou os juros mais uma vez em janeiro e os economistas do mercado financeiro preveem pelo menos mais um aumento neste ano. A inflação estimada para 2015 chegou a 7,01% na semana passada. Boa parte das pressões virá da correção de preços politicamente represados nos últimos anos. Além disso, o ajuste programado para as contas públicas deixará pouco espaço para a expansão econômica nos próximos meses. Os dois arrochos, o monetário e o fiscal, são necessários para o reparo dos danos causados à economia brasileira, especialmente nos últimos quatro anos, pelos erros e truques do governo. A Comissão Europeia apresentou suas novas projeções com as necessárias advertências e sem abusar do otimismo. A expansão ainda será limitada pelo baixo investimento e o desemprego continuará elevado, apesar de alguma redução. No conjunto, a parcela dos desempregados deverá diminuir de 10,2% no ano passado para 9,8% em 2015 e 9,3% em 2016. Mas nesse ponto a vantagem brasileira é estreita e discutível. No terceiro trimestre de 2014, o desemprego no Brasil ficou em 6,8%, segundo a Pnad, a pesquisa mais ampla do IBGE. Esse número foi pior que os da Alemanha, do Reino Unido, da Dinamarca, da Áustria e da Holanda, entre outros. Além disso, os empregos criados no País têm sido de baixa qualidade. Melhor evitar bravatas em relação a esse ponto e cuidar da saúde da economia.