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Comércio em crescimento na crise

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Por Redação
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O volume de vendas no varejo, em junho, segundo o IBGE, cresceu 1,7% em relação ao mês anterior. Trata-se da maior taxa desde fevereiro e, quando se considera o comércio varejista ampliado - que inclui veículos e material de construção - com crescimento de 6,5%, verifica-se que foi a maior do ano. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o aumento foi de 5,6% e, no acumulado do ano, de 4,4%. São dados que intrigam, quando tanto se fala de crise e de perspectivas de crescimento do PIB, neste ano, abaixo de 1%. Será que isso se deve à pujança de supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que no acumulado do ano acusam crescimento de 6,2% e cujo peso no comércio é de 67,9%? No entanto, das 8 atividades analisadas no chamado varejo restrito, apenas 2 apresentaram recuo no semestre (tecidos, vestuários e calçados; e móveis e eletrodomésticos). Estamos de fato com um progresso real das vendas varejistas, que provavelmente, como em todos os anos, crescerão mais no segundo semestre. Parece uma evolução contraditória, com o desemprego aumentando e o rendimento das aplicações financeiras diminuindo. Mas há explicações para essa situação. Em primeiro lugar, temos de considerar o crescimento do crédito às pessoas físicas (PFs), acompanhado por uma redução das taxas de juros, especialmente no caso dos bancos oficiais, menos preocupados quanto à possibilidade de aumento da inadimplência. Só o Banco do Brasil, em um ano, aumentou seus empréstimos às PFs em 27,9%. Em segundo lugar, levemos em conta que a renda da maioria da população cresceu. Isso ocorreu em razão dos reajustes do salário mínimo e seus efeitos sobre os benefícios do INSS. Também aumentaram consideravelmente as transferências governamentais, inclusive os programas assistenciais e investimentos, que se acrescentaram ao reajuste do salário do funcionalismo, cujas contratações cresceram. Paralelamente, os salários no setor privado aumentaram acima da inflação (que está caindo) e continuarão a apresentar a mesma tendência nos próximos meses. Nesse quadro, não se deve estranhar que, em agosto, o consumidor paulistano exiba, nas pesquisas, pela terceira vez consecutiva, maior confiança. No momento, nada permite pensar em mudança ou em reversão desse cenário, embora a inadimplência cresça.