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Compensa virar a noite?

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Por Redação
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Este ano, na Virada Cultural de São Paulo, a Polícia Militar prendeu 56 pessoas em flagrante, o dobro do número de detenções do ano passado (28) e 6 vezes o total registrado em 2012 (9). Além disso, mais 108 pessoas foram indiciadas pela polícia civil. De acordo com reportagem do Estado, contudo, este é um número bastante reduzido se se levar em conta a quantidade de pessoas encaminhadas aos Distritos Policiais (DPs) da capital nas primeiras horas do evento no sábado: 60 pessoas foram acusadas de pertencerem aos chamados "bondes", grupos que promoviam arrastões durante a festa. A maioria destes, contudo, foi liberada por falta de provas. Só a PM registrou 30 vítimas, a maioria das quais afirmou ter sido roubada. Ocorre que o movimento da própria Virada lotou as delegacias e muita gente não chegou a registrar ocorrência. De acordo com a Central de Análise e Planejamento da Secretaria da Segurança Pública do Estado, a média diária de ocorrências na região central de São Paulo, que é de 50,88 roubos por fim de semana, conforme dados coletados de janeiro a abril, foi superada: 71 denúncias de roubo foram feitas no sábado e no domingo. No fim de semana anterior, o total de registros foi de 15.Cinco dessas vítimas foram baleadas e duas esfaqueadas, mas desta vez, pelo menos, ninguém morreu. No ano passado, quando o evento foi marcado pela violência, foram registrados o mesmo número tanto de feridos quanto de esfaqueados. Mas em 2013 morreram duas pessoas. O governador Geraldo Alckmin comemorou o fato de não haver mortos: "O trabalho foi intenso", disse, referindo-se ao policiamento. Segundo ele, o patrulhamento foi recorde este ano: 2.702 homens. Só que em 2013 a própria PM informou terem sido utilizados 3.424 policiais na operação montada para dar segurança às plateias dos espetáculos musicais gratuitos em palcos instalados nas ruas centrais da cidade. A corporação informou depois que o efetivo de 2013 foi de 2.450 policiais.Ninguém pode negar que um evento da magnitude da Virada Cultural, realizada desde 2005 no primeiro ano da gestão do tucano José Serra e repetida nos últimos nove anos pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e pelo atual, o petista Fernando Haddad, exige um esforço enorme da autoridade policial para dar segurança ao público. Se o policiamento é difícil de ser feito durante o dia, noite e madrugada dificultam ainda mais a ação dos agentes da lei na tentativa de deter a ação dos bandidos, que se aproveitam da conjugação de iluminação reduzida com aglomeração maior. No ano passado, até um congressista, o senador Eduardo Suplicy (PT), foi vítima: um ladrão furtou seu celular, como ele contou ao microfone durante um show.O total de espectadores abordados e identificados pelos policiais entre as 18 horas de sábado e as 18 de domingo - 16.686 - dá ideia desse esforço. Mas essa abordagem não foi suficiente para impedir a ação dos marginais. Em 2012, edição na qual uma pessoa foi assassinada a tiros, as patrulhas abordaram muito menos: 1.141 pessoas. O balanço feito pelo secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella, da atuação de seus subordinados foi muito positivo: "Teve uma produtividade elevada. Evidente que em um evento dessa natureza é impossível evitar esse tipo de ocorrência (crimes)".O prefeito Fernando Haddad também elogiou muito o desempenho de sua administração este ano: "No que concerne à Prefeitura, acho que foi feito um excelente trabalho pelas Secretarias de Cultura e de Serviços. A programação foi aprovada pelas pessoas com as quais conversei e fizemos um trabalho melhor em relação à iluminação e à limpeza". Em que pese o otimismo de prefeito e secretário de Segurança, contudo, é o caso de questionar se os espetáculos musicais gratuitos para a população em palcos a céu aberto ao longo da noite compensam por sua qualidade estética e valor cultural o esforço fora da rotina das polícias para conter arrastões, roubos, brigas e fechamento de estações do Metrô só para manter o nome da festa.