
03 de fevereiro de 2014 | 02h05
A Secom foi um dos poucos órgãos do governo para os quais Dilma, ao assumir a Presidência, pôde nomear ela mesma o titular, contornando as vontades de Lula, seu criador. A escolha recaiu sobre a jornalista Helena Chagas, cujo perfil permitia supor que a Secom seria "desideologizada", isto é, perderia o caráter de aparelho partidário imposto pelo seu antecessor, o jornalista Franklin Martins.
No cargo, Franklin passou o segundo mandato de Lula fortalecendo o sistema de comunicação do governo e empenhando-se em levar adiante um projeto de regulamentação da mídia que incluísse uma óbvia tentativa de controlar conteúdos jornalísticos. Dilma sempre teve o cuidado de evitar esse assunto e chegou a dizer que "o único controle de conteúdo admissível é o controle remoto da TV".
Além disso, Franklin promoveu a pulverização de verbas de publicidade do governo - outra atribuição crucial da Secom -, premiando veículos simpáticos ao governo. Com a entrada de Helena Chagas, o critério de investimento publicitário voltou a ser técnico: recebem mais verbas os veículos de maior audiência, pois o objetivo da comunicação oficial é atingir o maior número possível de pessoas.
Esse comportamento contrariou a militância petista, que construiu uma rede de blogs dedicados a fazer a defesa incondicional do governo e esperava ser muito bem remunerada por esse serviço. As verbas até foram liberadas, mas não no volume exigido pelos militantes, que não compreendem por que o governo prefere anunciar em veículos independentes, que lhe são críticos, e dá menos dinheiro aos que lhe servem como apaixonados advogados.
A pressão petista contra esse estado de coisas foi violenta. Em recente reunião do partido que tratou do assunto, segundo relato de O Globo, um dos presentes chegou a qualificar a comunicação do governo de "porcaria", criticou o corte de recursos destinados aos blogs governistas e cobrou uma melhor estratégia de comunicação do governo nas redes sociais.
A queda de Helena Chagas deve ser lida nesse contexto, assim como sua substituição por Thomas Traumann. Ex-porta-voz de Dilma, ele é tido como um profissional mais agressivo que sua antecessora e afinado com Franklin Martins, que deve ser um dos principais chefes da campanha de Dilma. A intenção, portanto, é facilitar a sinergia entre a comunicação do governo, do PT e da campanha da presidente à reeleição, com óbvio prejuízo para a informação institucional - apartidária por definição.
Um dos campos preferenciais da nova estratégia de comunicação é o das redes sociais, das quais Traumann já cuidava no governo. É nelas que os militantes governistas empreendem sua guerra suja, com a disseminação de informações falsas ou distorcidas para louvar conquistas inexistentes do lulopetismo e para destruir a reputação de opositores.
Assim, que não se tome pelo valor de face um vídeo recém-divulgado em que Lula pede que haja comedimento nas redes sociais. O que Lula quer não é reduzir as agressões contra os adversários do PT, pois são justamente elas que mobilizam a militância - como bem sabe o ex-presidente, useiro em proferir diatribes quando está no palanque -, mas sim profissionalizá-las. Ao dizer que a internet precisa ser explorada com parcimônia e respeito, Lula espera, na verdade, que a militância seja menos voluntarista e se atenha a uma estratégia de comunicação muito bem definida, urdida por quem realmente entende do assunto.
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