01 de novembro de 2015 | 02h55
A finalidade da enquete, que ouviu 3.300 pessoas de 8 Estados – Amazonas, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal –, é medir “a percepção dos brasileiros em relação ao respeito às leis e às ordens de algumas autoridades, retratando a ligação do indivíduo com o Estado de Direito”. Entre os itens analisados está a confiança nas instituições. A última edição da pesquisa, relativa ao primeiro semestre de 2015, revela que a crise pela qual atravessa o País teve consequências negativas na visão dos brasileiros sobre as instituições. Até o Ministério Público (MP) sofreu uma piora em seu índice. Agora, 43% dos entrevistados manifestaram crédito no MP, ante 48% no ano passado. As instituições que receberam maior índice de confiança foram as Forças Armadas (67%) e a Igreja Católica (58%).
Nesse tópico sobre as instituições, a pesquisa indica um crescimento da confiança do brasileiro na imprensa escrita. No primeiro semestre de 2014, 44% dos entrevistados haviam manifestado sua confiança na imprensa escrita. Agora, em 2015, foram 47%.
Os dados mostram que a confiança na imprensa não foi afetada pela crise política, econômica, social e também moral que o País atravessa. Ao contrário, é como se a crise tivesse ajudado a desvelar a importância de uma imprensa livre, atuante e não submetida ao domínio do poder público. A independência da imprensa diante do poder público é percebida pela população – e talvez aí esteja a razão para que a confiança na imprensa cresça enquanto a das instituições públicas diminui.
A única instituição pública cujo nível de confiança cresceu entre o primeiro semestre de 2014 e o de 2015 foi o Poder Judiciário, com um aumento de 1 ponto porcentual, de 30% para 31%. Revela que também a Justiça é vista com independência do Poder Executivo e do Poder Legislativo, o que indica uma saudável maturidade institucional.
O crescimento da confiança na imprensa escrita manifesta que ela não perdeu relevância num cenário ocupado por tantas outras mídias. A oferta de informação em outras plataformas – o que é um enorme bem para a sociedade, com uma maior pluralidade de canais e fontes – faz apenas ressaltar a manutenção da função social exercida pela imprensa escrita. Sua informação é percebida como digna de um especial crédito. Por exemplo, o nível de confiança nas emissoras de televisão, que também cresceu entre 2014 e 2015, é atualmente de 34%.
Num mundo cada vez mais “multitarefa”, onde as pessoas realizam várias coisas ao mesmo tempo, a imprensa escrita – ao requerer certa exclusividade na atenção do leitor – oferece uma oportunidade única de comunicação de informação e de ideias. Aquilo que poderia ser visto como uma fragilidade manifesta-se na prática como um enorme diferencial em relação aos outros meios. Ela traz uma informação qualificada, quer seja pela forma como é produzida – com um rigor que difere do habitualmente encontrado em outros meios –, quer seja pela forma como é transmitida, numa relação única e exclusiva com cada leitor.
Não se trata de exagerar as diferenças entre os diferentes meios. Eles são complementares e não excludentes. Trata-se apenas de reconhecer a importância da imprensa escrita num mundo que tantas vezes decreta o fim do papel, o predomínio das imagens sobre o texto, o prazo de validade dos jornais. Não é bem assim. A narrativa produzida pelo jornalismo escrito continua relevante. E, mesmo tendo à disposição outros novos e excelentes meios – e talvez por isso mesmo –, as pessoas confiam cada vez mais na imprensa escrita.
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