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Consolida-se a paz na Colômbia

Mais um passo importante foi dado para consolidar a paz na Colômbia, com o anúncio de um cessar-fogo entre o governo e o grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN)

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Por Redação
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Mais um passo importante foi dado para consolidar a paz na Colômbia, com o anúncio de um cessar-fogo entre o governo e o grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN), o mais importante ainda em atividade no país, depois do acordo que levou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a depor suas armas. A trégua deve vigorar entre 1.º de outubro e 12 de janeiro, período durante o qual as duas partes esperam chegar a um acordo ou pelo menos fazer avanços significativos nessa direção.

Segundo o presidente Juan Manuel Santos, como a prioridade do governo é proteger os cidadãos, no período do cessar-fogo o ELN assumiu o compromisso de não realizar sequestros, ataques a oleodutos – duas de suas principais atividades destinadas a arrecadar fundos por meio de chantagem e cobrança de resgate – e qualquer outra atividade hostil à população civil. O compromisso foi assumido publicamente em Quito, no Equador, onde se desenrolam as negociações – iniciadas em outubro de 2016 –, pelo líder do ELN, Pablo Beltrán.

Outra condição imposta por Santos foi a libertação de um ex-deputado, Odín Sánchez, refém dos guerrilheiros desde abril de 2016. Em troca, o governo promete dar proteção aos líderes locais do ELN, que podem sofrer represálias de famílias de alguma forma atingidas pela guerrilha, e melhorar as condições de tratamento dos guerrilheiros presos. As partes ainda estão longe de um acordo, como reconhece o negociador do governo, Juan Camilo Restrepo. Mas ao mesmo tempo, acrescenta, esse é um primeiro passo de grande importância “para se estabelecer uma relação de confiança”.

São compreensíveis tanto a posição firme adotada por Santos, com as condições impostas ao ELN para o cessar-fogo, como a cautela de Camilo Restrepo, tendo em vista a experiência com o acordo assinado com as Farc em 2016. Rejeitado por estreita margem de votos em plebiscito realizado em outubro daquele ano, ele teve de ser refeito, com condições mais duras para o grupo guerrilheiro, para ser aprovado pelo Congresso. Santos já deixou aberta a possibilidade de prolongar o cessar-fogo, para obter um acordo que seja aceitável para a população.

A guerrilha – na qual se destacaram as Farc e em segundo lugar o ELN – deixou marcas profundas na população colombiana, num conflito que durou 53 anos. Foram até agora mais de 220 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões que tiveram de deixar suas casas nas áreas de conflito. Estima-se que cerca de 8 milhões de colombianos foram vítimas do conflito ou tiveram parentes nele envolvidos de alguma forma. Indiretamente toda a população sofreu com o conflito de mais de meio século.

A consequência dessa dura experiência é um desejo de paz misturado com desconfiança do inimigo, ainda há pouco presente. O presidente Santos tem conseguido conciliar – embora com percalços como a derrota no plebiscito do ano passado – esses sentimentos, com o argumento de que não existe acordo de paz perfeito. Nesse caso, a julgar pelo que se obteve até agora com o acordo com as Farc, os ganhos têm sido maiores que as perdas. É o que se espera que aconteça também com o ELN, se as conversações em Quito levarem a um entendimento semelhante.

No caso das Farc, que dão os primeiros passos para se integrar à vida política como um partido como os outros, assistiu-se ao fim guerrilha nitidamente de inspiração comunista, apoiada no fim apenas por Cuba e os bolivarianos. Com o ELN, assiste-se ao ocaso – porque a essa altura é difícil vislumbrar a sua sobrevivência com algum relevo – da aventura que misturou marxismo com teologia da libertação. Ambos acabam melancolicamente. As Farc, profundamente envolvidas com o tráfico de drogas; e o ELN, com sequestros e ataques a empresas petrolíferas como forma de chantagem.

Livrar-se dessas guerrilhas é o que de melhor poderia acontecer para a Colômbia.