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Coreia do Norte testa o mundo

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Por Redação
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O teste nuclear realizado pela Coreia do Norte no dia 6 de janeiro expôs mais uma vez a fragilidade dos controles internacionais perante um país autoritário e que se esforça por se isolar cada vez mais, sem qualquer compromisso com o bem-estar de sua população e com a estabilidade regional. As sanções impostas pela ONU desde 2006 à Coreia do Norte, quando fez seu primeiro teste atômico, foram insuficientes para limitar os arroubos de grandeza de Kim Jong-un, líder do “Reino Ermitão”, o país mais isolado do mundo. Urge uma resposta internacional rápida e contundente a essa irresponsabilidade.

Segundo o governo norte-coreano, foi feito um teste de bomba de hidrogênio ou bomba termonuclear. Trata-se de uma arma mais potente e que exige menos espaço que uma ogiva nuclear normal. Por exemplo, o primeiro teste de bomba-H, feito pelos EUA em 1952, liberou energia equivalente a 10 megatons de TNT, cerca de mil vezes mais do que a bomba atômica lançada contra Hiroshima em 1945.

Autoridades internacionais questionam a informação oficial do governo norte-coreano. A Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO) indicou que o “evento sísmico” registrado no último dia 6 na Coreia do Norte é condizente com o artefato testado pelo país em 2013, que não foi uma bomba-H. O governo americano também levantou dúvidas quanto à veracidade da informação divulgada por Pyongyang. Segundo a Casa Branca, as análises iniciais “não são consistentes” com uma bomba-H. O Serviço Geológico dos EUA registrou terremoto de 5,1 graus na escala Richter no nordeste da Coreia do Norte.

O evento do dia 6 de janeiro exige da comunidade internacional uma resposta efetiva sobre o tipo de bomba nuclear efetivamente testado. Trata-se, afinal, do quarto teste nuclear – em 2006, 2009, 2013 e 2016 – de um país que se empenha em desprezar as regras internacionais.

Como afirmou o presidente americano, Barack Obama, o teste nuclear norte-coreano “constitui uma nova violação das obrigações e compromissos sob a legislação internacional, entre elas várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.

Em reunião de emergência, o Conselho de Segurança da ONU qualificou como uma “clara ameaça à paz mundial” o teste nuclear da Coreia do Norte e anunciou que trabalhará “imediatamente” para adotar uma nova resolução de condenação. Segundo a entidade, o teste não viola apenas as resoluções da ONU, mas também o regime de não proliferação nuclear buscado pela comunidade internacional. O Conselho lembrou ainda que, em outras ocasiões, as Nações Unidas já tinham ameaçado adotar novas “medidas significativas” caso Pyongyang continuasse com os testes nucleares.

O programa atômico norte-coreano começou nos anos 60 com apoio da Rússia e da China durante o governo de Kim Il-sung – avô do atual líder –, que instaurou uma dinastia comunista no país. Nos anos 80, Pyongyang deu os primeiros passos em direção ao desenvolvimento de armas atômicas. Desde 2006, a ONU sanciona a Coreia do Norte tanto pelos testes nucleares realizados quanto pelo programa de mísseis balísticos que desenvolve.

É preciso reconhecer que a lógica do regime norte-coreano escapa à argúcia dos melhores analistas. A irresponsabilidade talvez seja a principal marca do governo, cujo discurso baseia-se numa ideologia socialista autossuficiente (“juche”). Não dá satisfações à população nem ao restante do mundo. A comunidade internacional precisa, portanto, agir com prudência, mas sem hesitações.

Nesse difícil tabuleiro, a China tem especial responsabilidade, por suas históricas relações com o país. Em 2013, Pequim apoiou no Conselho de Segurança da ONU as sanções contra a Coreia do Norte. Agora, é preciso terminar de vez com qualquer resto de dubiedade.