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Crédito caro e contido

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Por Redação
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Depois de crescer 15,2%, entre 2008 e 2009, o volume de operações de crédito aumentou 20,5%, entre 2009 e 2010, mas esse ritmo dificilmente será mantido neste ano. O custo das operações é crescente e o Banco Central (BC) já contém os empréstimos, para não pressionar a inflação. Em dezembro, o valor dos empréstimos aumentou apenas 1,55%, abaixo do porcentual de 1,87% de dezembro de 2009. Houve "um arrefecimento em comparação ao ritmo em que o crédito vinha crescendo em 2010 e, sem dúvida, por impacto das medidas macroprudenciais", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.Com a exigência de mais capital para financiar operações de prazo superior a 24 meses, além do aumento do recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo, houve um duplo efeito negativo para os tomadores de empréstimos: os juros e os spreads subiram e os prazos foram reduzidos. O BC calcula que os juros passaram, em média, de 35% ao ano, no mês passado, para 38% ao ano, na primeira quinzena deste mês.A alta dos juros foi maior para as pessoas físicas, que pagavam 40,6% ao ano, em média, em dezembro, e passaram a pagar 45,1%, conforme levantamento de 12 de janeiro. O maior peso veio do spread bancário, que aumentou 2,9 pontos porcentuais no período.Outra medida da desaceleração do crédito é o volume de concessões para pessoas físicas, que caiu de R$ 3,671 bilhões, em novembro, para R$ 3,142 bilhões, no mês passado (-14,4%). O recuo foi menor no caso das empresas (-6%, na média), cujas necessidades sazonais são agudas. Mas a diminuição dos empréstimos para as micro e pequenas empresas foi de 8,6%, indicação de aperto justamente para as companhias que menos capital têm.O aperto do crédito ocorre depois de um forte aumento do endividamento das pessoas físicas, constatado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo: entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010, aumentou em 227 mil o número de famílias endividadas, que agora são 1.836.515. O endividamento é maior no cartão de crédito (70,8%), carnês (24,7%) e crédito pessoal (10,8%), que estão entre as linhas de maior custo. Outros 6% pesquisados declararam que as dívidas se devem ao cheque especial e 4,9%, aos pré-datados. O que preocupa é a natureza da dívida - ou seja, o predomínio das dívidas caras -, alertam os especialistas.Dos devedores, 15% afirmam que já têm uma prestação em atraso e 6% admitem que não poderão pagar todas as obrigações que contraíram. Até dezembro, segundo os dados do BC, a inadimplência em prazo superior a 90 dias, considerada mais grave pelas instituições financeiras, era de apenas 4,6%, com ligeira queda em relação a novembro. E, segundo a Serasa Experian, a inadimplência das empresas caiu 5,3% entre 2009 e 2010, mas subiu 3% entre novembro e dezembro, o que sugere um forte enxugamento da liquidez.As facilidades encontradas pelos consumidores em 2010 - gastos crescentes do setor público, farta liquidez, mais emprego e renda - foram determinantes da demanda de crédito. Neste ano, o Banco Central já estima que o aumento real da oferta de empréstimos será da ordem de 15%, porcentual semelhante ao de 2009, um ano de recessão.Em relação ao PIB, prevê Lopes, o crédito continuará aumentando, de 46,6% do PIB, no ano passado, para cerca de 50%, neste ano. Ainda será um crescimento razoável, cuja qualidade dependerá de a evolução ocorrer mais nas linhas de menor custo, por exemplo, crédito consignado e empréstimos habitacionais, do que nas mais onerosas e mais difíceis de serem honradas.Na Ata do Copom, divulgada quinta-feira, o Banco Central observou que "seu cenário central também contempla moderação na expansão do crédito" . É a maneira de reduzir as pressões da demanda, do ritmo de consumo e de crescimento econômico, estimado em 7,5%, em 2010. Conter o crédito pode ser necessário para o reequilíbrio da economia e o retorno a taxas mais elevadas de crescimento.