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Por Redação
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Crescem os temores de que a crise dos países da zona do euro afete seriamente o desempenho das exportações brasileiras em 2012. Não só a demanda por produtos brasileiros, inclusive commodities, tende a decrescer, como já surgem sinais de retração de grandes bancos europeus do funding para linhas de crédito destinadas ao comércio exterior, o que deve merecer a atenção dos responsáveis pela política econômica brasileira. Um dado significativo é a queda de 42% na média diária da concessão de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) nas últimas semanas. A média de fechamento de ACC, que foi de US$ 241 milhões em setembro, recuou para US$ 142 milhões na última semana de outubro e no início deste mês, segundo dados do Banco Central (BC), citados pelo jornal Valor (16/11). O baque praticamente não foi sentido, uma vez que, aproveitando a desvalorização do real, os exportadores brasileiros fecharam um volume muito grande de ACCs até meados de outubro. Assim, a retração da oferta de linhas de financiamento externo pelos bancos europeus coincidiu com uma menor demanda dos exportadores brasileiros. No acumulado do ano a soma dos ACCs é de US$ 45,2 bilhões, aproximando-se de um recorde histórico, assim como as exportações que podem alcançar US$ 250 bilhões este ano (US$ 212,14 bilhões até outubro). Caso o real volte a se depreciar a curto prazo, surgirão novas oportunidades para que as empresas exportadoras fechem contratos de câmbio em cotações mais vantajosas. Contudo, para que isso possa ocorrer no volume esperado, é indispensável que haja demanda por produtos brasileiros em importantes mercados da Europa, o que é problemático. Já se admite que as vendas brasileiras de commodities tenham um decréscimo de US$ 10 bilhões em 2012 e se prevê um sensível recuo de produtos manufaturados, como calçados, para os mercados europeus. Já as vendas para o mercado americano vêm reagindo, apresentando um bom crescimento nos últimos meses, principalmente de produtos siderúrgicos e petróleo. De qualquer forma, as exportações brasileiras devem se ressentir da escassez de créditos a fornecedores de grandes bancos internacionais. Tudo dependerá de como evolua a crise mundial, mas estão ainda bem presentes na memória os efeitos da crise de 2009 sobre as vendas externas brasileiras. Naquele ano, as exportações nacionais não passaram de US$ 152,99 bilhões, uma queda de 22,7% em relação a 2008 (US$ 197,94 bilhões), como consequência direta da contração da liquidez nos países mais avançados. Calcula a Organização Mundial do Comércio (OMC) que as linhas de financiamento ao comércio internacional naquele ano tiveram um decréscimo de US$ 25 bilhões.É bem verdade que as importações brasileiras também tiveram um recuo expressivo em 2009, ficando em US$ 127,72 bilhões, 26,16% a menos em relação ao ano anterior (US$ 172,98 bilhões). Mas é preciso levar em conta que o Produto Interno Bruto (PIB) do País, em 2009, foi negativo em 0,20%, o que deprimiu a demanda por produtos importados. A grande questão está em saber se o Brasil conseguirá crescer a uma taxa de 3% a 3,5% em 2012, como prevê o governo, com um decréscimo sensível das exportações, agravado por uma provável aceleração das importações em vista do empenho redobrado dos países em crise em vender para o exterior.A resposta não estará na restrição às importações, como é a tendência do governo, mas no fortalecimento do crédito interno e externo às exportações. Presumindo que a taxa do dólar se mantenha ao redor de R$ 1,75 no ano que vem, empresários sugerem que, como o País possui reservas elevadas (US$ 352,11 bilhões em 14/11), tem condições para criar instrumentos que habilitem agências de bancos brasileiros no exterior a complementar o funding para aquisição de produtos brasileiros nos países em que as restrições de crédito são mais agudas. Há precedente, lembrando os empresários que já foi criada uma linha de crédito em dólares para países vizinhos para importação de máquinas e equipamentos fabricados no Brasil.