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Crédito pouco utilizado

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Por Redação
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Existem recursos para atender à demanda das pequenas e médias empresas por financiamento, sobretudo para programas de investimento de longo prazo, e são atraentes os custos das operações nas instituições que oferecem esses empréstimos. Em vários pontos, porém, o relacionamento entre tomador e fornecedor de crédito se complica, e muitas vezes a operação não se realiza, mesmo sendo do interesse das duas partes. Em boa medida, os resultados das operações da agência de fomento Nossa Caixa Desenvolvimento em 2011 refletem essa anomalia da economia brasileira.A meta divulgada pela agência no início do ano era de, em 2011, praticamente quadruplicar as operações, chegando ao fim de dezembro com uma carteira de crédito de cerca de R$ 1 bilhão. Para isso, a Nossa Caixa Desenvolvimento deveria desembolsar R$ 750 milhões (valor que se somaria aos contratos de empréstimo ainda em vigor), contra R$ 200 milhões desembolsados em 2010. Mas a agência desembolsou apenas R$ 230 milhões em 2011, com o que a carteira de crédito chegou a R$ 350 milhões.Ao anunciar a meta, o presidente da agência, Milton Luiz de Melo Santos, admitiu que era arrojada, mas garantiu que "trabalharia alucinadamente" para atingi-la. De fato, a Nossa Caixa Desenvolvimento parece ter feito o esforço prometido para ampliar o número de empresas financiadas, tendo para isso procurado estimular o potencial dos parques tecnológicos em funcionamento no Estado, como os de Campinas, São Carlos e São José dos Campos, e os em instalação nas cidades de Araçatuba, Barretos, Botucatu, Ilha Solteira, Barueri, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São José do Rio Preto, Sorocaba e São Paulo.Além disso, a agência criou linhas específicas, como a destinada aos pequenos produtores, comerciantes e prestadores de serviços do Vale do Ribeira. Ela mantém também linhas para a área de petróleo e gás e para a construção de distritos industriais e centros de distribuição e abastecimentos no interior.A agência apostou no interesse das empresas nas linhas de crédito. Mas as empresas têm dificuldade para apresentar a documentação necessária. Os documentos são os exigidos em qualquer operação com organismos oficiais, como certidões negativas de débito com a Receita, o INSS e o FGTS.Elas também precisam comprovar sua boa situação econômico-financeira, indispensável para a avaliação do risco da operação e - evidentemente - ter um projeto a ser financiado. "Mas a realidade é que as empresas têm uma dificuldade enorme de apresentar projetos", disse o presidente da agência ao jornal Valor.É um problema conhecido há muito tempo. "As pequenas e microempresas não se preparam para ter documentação adequada para pleitear financiamento no sistema de crédito", observou Milton Santos há alguns meses, durante debate na Amcham-São Paulo. Pouco profissionalizadas, elas não conseguem comprovar seus resultados financeiros nem oferecer as garantias exigidas para a concessão dos financiamentos.Sem possibilidade de utilizar linhas de crédito de longo prazo - há alguns meses, a Nossa Caixa Desenvolvimento ampliou o prazo de pagamento de 5 para 10 anos e a carência de 1 para 2 anos -, muitas empresas recorrem a empréstimos bancários de curto prazo, como cheques especiais e financiamento de capital de giro, bem mais caros do que os oferecidos pela agência de fomento paulista."Capital de giro não é nossa prioridade", ressalva Santos, pois a agência tem o objetivo de financiar o desenvolvimento de longo prazo da empresa. Mas concede esse tipo de empréstimo para iniciar o relacionamento com as empresas.Há pouco, a agência colocou no ar o Canal do Empresário, para oferecer aos interessados as informações necessárias sobre as linhas de crédito disponíveis e as exigências para obtê-las. Isso facilita a vida dos pequenos empresários em busca de financiamento, mas o crescimento mais rápido dos empréstimos de longo prazo, em condições mais favoráveis, depende muito da capacidade administrativa do próprio interessado.