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Cresçamos todos de maneira sustentável!

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Por Connie Hedegaard
3 min de leitura

As realizações sociais e econômicas que temos visto no Brasil nos últimos anos são notáveis. Precisamos incluir mais pessoas no futuro global. Não podemos estabelecer limites para o crescimento. Mas de que tipo de crescimento precisamos? Crescimento econômico a qualquer custo?O crescimento, per se, não é nosso inimigo, nem nosso problema. É a maneira como crescemos - e a maneira como continuamos a crescer - que nos apresenta um desafio comum. Uma criança nascida hoje é uma dentre 7 bilhões de seres humanos e, durante a sua vida, essa criança verá a população mundial crescer outros 3 bilhões. Mais pessoas terão acesso à classe média, inclusive no Brasil. São boas notícias.Mas até essa criança nascida hoje fazer 18 anos, em 2030, o mundo precisará de, pelo menos, 50% mais alimentos, 45% mais energia e 30% mais água. Todo dia, o equivalente a 24 mil campos de futebol de florestas é desmatado ou queimado. Dentro de 20 anos nosso abastecimento de água atenderá a apenas 60% da demanda mundial. Esses são os tipos de desafio que hoje nos confrontam.Quando levamos essas cifras em consideração, fica claro que continuar como vamos não é opção. E estaremos enganados se pensarmos que essa é a opção menos dispendiosa. Em verdade, não é. Ao contrário, é cara demais.É por isso que precisamos de um modelo de crescimento mais sustentável. Essa é uma das recomendações-chave no novo relatório do Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global da ONU, do qual tive a honra de participar. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, criou esse painel e nos convidou a elaborar uma visão de longo prazo com vista à conferência Rio+20, a ser realizada em junho no Brasil.Assim, precisamos redefinir o crescimento. E lidar com a mudança climática é uma parte crucial desse modelo de crescimento sustentável. A mudança climática é um multiplicador de ameaças e sem ação climática o próprio futuro estará em jogo.O crescimento favorável ao clima deve ser inteligente para produzir mais com menos insumos. Obter mais usando menos. O que nos beneficiará a todos. Inclusive ao Brasil.É importante que todos os países - incluindo as economias emergentes - contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa. É evidente que países diferentes, com economias diferentes, deverão fazer coisas diferentes. Mas o importante mesmo é que todos contribuam para um uso mais eficiente dos recursos.Na Europa, já estamos reduzindo nossas emissões. Temos metas obrigatórias de redução de emissões e renováveis, um preço para o carbono e medidas de eficiência energética. E estamos procurando maneiras mais inteligentes de tributar menos o que se ganha e mais o que se queima.Aprendemos duas lições importantes na Europa. Primeiro, que as metas obrigatórias funcionam. Ajudam os governos a manter o foco, mesmo quando surgem outras prioridades políticas. Em segundo lugar, que sinalizar com os preços ajuda. Impulsiona a inovação e os investimentos mediante a criação de incentivos permanentes à redução de emissões, mesmo durante a pior crise econômica em décadas.É, por isso, crucial estabelecer um preço para a poluição ambiental, de maneira a construir um modelo sustentável de crescimento global. O Painel sobre Sustentabilidade Global recomenda que até 2020 todos os governos estabeleçam tais sinais/preços valorizando a sustentabilidade, de maneira a orientar as decisões de consumo e investimento dos lares, das empresas e do setor público.Temos de fazer os poluidores pagarem. Mas fazê-lo de maneira inteligente, usando mecanismos de estabelecimento de preços e mercados de carbono. Assim, também poderemos levantar recursos adicionais para investimentos e desenvolvimento sustentável, especialmente nos países em desenvolvimento.A Conferência do Clima em Durban (COP 17), na África do Sul, no final do ano passado, foi um passo importante no sentido de confrontar o desafio climático. E o Brasil foi uma força ativa e construtiva para se obter um resultado favorável: um acordo para se iniciarem negociações sobre um arcabouço jurídico global realmente novo para ação climática. Um acordo que reflita a realidade de mundo interdependente de hoje.Isso é importante não apenas porque o Brasil é especialmente vulnerável a condições climáticas extremas, severas e frequentes, mas também porque a transição para uma economia global de baixo carbono representa uma enorme oportunidade de modernizar as nossas economias, estimular o crescimento e gerar empregos.Assim, a boa notícia para todos é que a sustentabilidade não implica menor crescimento econômico. A sustentabilidade obtém-se mantendo e melhorando a qualidade de vida, enquanto garantimos que a poluição não solape o crescimento econômico. Sustentabilidade quer dizer maneiras mais inteligentes de produzir, cidades mais inteligentes, com ar mais limpo e menos poluição, menos barulho e menos congestionamentos. Sustentabilidade quer dizer lares mais eficientes do ponto de vista energético. Sustentabilidade significa contas de energia mais baixas.Os líderes mundiais precisam utilizar a conferência Rio+20 para colocar o desenvolvimento sustentável no coração da agenda econômica global, que é o seu lugar, e não um meio ambiente isolado das decisões econômicas mais importantes.Como fizemos em Durban, agora a tarefa da União Europeia e do Brasil é trabalhar, juntos, para encontrarem soluções realmente globais, confiantes e orgulhosos da nossa liderança nessa área. Usemos a reunião de cúpula Rio+20 para iniciar a transição global para um modelo de crescimento sustentável para o 21.º século. Essa é a transição de que o mundo tanto precisa.    COMISSÁRIA EUROPEIA PARA A AÇÃO PELO CLIMA