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Crime na USP

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Por Redação
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Ocorrido o primeiro caso de latrocínio na Cidade Universitária, na quarta-feira passada, no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA), a Universidade de São Paulo (USP) terá de decidir se haverá suficiente policiamento ostensivo no câmpus, para proteger alunos, professores e funcionários, ou se o local continuará entregue à marginalidade. Localizada ao lado de uma grande favela, a Cidade Universitária dispõe de uma Guarda Universitária que não pode andar armada e conta com apenas 130 agentes de segurança patrimonial, divididos em dois turnos, para proteger dezenas de prédios e fiscalizar seus estacionamentos. Entre janeiro e abril deste ano, os roubos aumentaram 13 vezes, os atos de violência cresceram 300% e, no período noturno, o câmpus vem sofrendo uma onda de sequestros relâmpago. Mesmo assim, vários servidores, alunos e professores resistem - por motivos ideológicos - à presença da Polícia Militar (PM) no câmpus. Seguidores de micropartidos de esquerda, eles associam a PM à "opressão" e à "repressão" e alegam que o patrulhamento da Cidade Universitária pela corporação comprometeria a "autonomia da USP". Os argumentos são pueris, mas esses grupos controlam o Diretório Central dos Estudantes, o Sindicato dos Funcionários (Sintusp) e a Associação dos Docentes da USP (Adusp), além de exercer forte influência na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. A insegurança no câmpus "é um problema de toda a sociedade e não só da USP", diz o presidente da Adusp, João Zanetic. Em nota, o Sintusp acusa a PM de promover "agressões e espancamentos" e reivindica uma segurança "exercida só por trabalhadores da USP". Segundo o reitor João Grandino Rodas, "essa minoria é ativa e barulhenta" e, por causa de sua resistência à PM, "a corporação também não quer entrar na Cidade Universitária para ser cuspida em situações de enfrentamento". É por isso, diz ele, que nos últimos meses "o câmpus se converteu em terra de ninguém". Por causa do aumento da violência criminal, há três semanas o Comitê Gestor da USP - integrado por diretores das unidades de ensino, pesquisa e museus e por representantes de alunos e funcionários - aprovou um plano de segurança emergencial para a Cidade Universitária. Depois do assassinato de Felipe Ramos de Paiva, aluno do 5.º ano de Ciências Atuariais da FEA, o Conselho reuniu-se na sexta-feira para rever o plano e debater a presença da PM no câmpus. Como era de esperar, os grupos de esquerda fizeram barulho e o encontro deixou frustrado quem reivindicava mais segurança no câmpus. Depois de muitas discussões, o Conselho rejeitou as propostas - encaminhadas pela FEA - de aumento do efetivo da Guarda Universitária e de adoção de medidas de controle do acesso à Cidade Universitária. A única providência concreta foi o encaminhamento, ao reitor, de um pedido para a formulação de um "protocolo" que defina a forma de patrulhamento do câmpus pela PM. Na prática, isso significa que o problema da segurança na Cidade Universitária continuará sem solução. Mesmo que a Reitoria elabore o tal "protocolo", os membros do Conselho Gestor já deixaram claro que poderão rejeitá-lo, se discordarem do "modelo de policiamento" que for proposto. Além disso, afirmou o professor José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica e presidente do Conselho Gestor, caberá à comunidade acadêmica definir os limites da atuação da Polícia Militar. "A preocupação em relação às lembranças do tempo da ditadura será levada em consideração", disse ele ao término da reunião. Tendo resultado numa tragédia que poderia ter sido evitada, a crise de insegurança da Cidade Universitária dá a dimensão do que vem ocorrendo na mais importante instituição brasileira de ensino superior. Seus órgãos colegiados são cada vez mais controlados por minorias estridentes e obtusas, que invocam a autonomia universitária como se a USP fosse um ente à margem do Estado e da sociedade que a sustentam.