19 de agosto de 2014 | 02h06
Os últimos números do BNDES cobrem o período até abril e são, na maior parte, desanimadores. Os desembolsos para a indústria, nos primeiros quatro meses, foram 23%menores que os de um ano antes. No caso da agropecuária, 22% menores. Houve expansão de 48% nos desembolsos para infraestrutura e de 27% para comércio e serviços. No conjunto, o aumento foi de 8%, mas a redução do dinheiro entregue aos dois principais setores produtivos mostra nitidamente um cenário de estagnação.
Ninguém deve iludir-se: os serviços podem ser o setor de maior peso no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), mas a economia é movida principalmente pela produção da agropecuária e da indústria. O volume produzido por esses dois segmentos afeta diretamente a atividade de vários tipos de serviços. Os transportes são o exemplo mais evidente. Outro detalhe nem sempre lembrado: boa parte dos serviços, no Brasil, é pouco produtiva e pouco avançada tecnologicamente.
Os desembolsos para comercialização de máquinas e equipamentos nacionais - Finame, Finame Leasing e Finame Agrícola - também dão ideia da baixa disposição para investir. De janeiro a abril essas operações totalizaram R$ 22,91 bilhões, valor 0,11% maior que o de um ano antes. Essa diferença ficou muito abaixo da inflação acumulada de um ano para outro.
Números mais atualizados da indústria também apontam a redução do dinheiro aplicado em bens de capital, isto é, em máquinas e equipamentos. De janeiro a junho, a produção de bens de capital foi 8,3% inferior à do primeiro semestre de 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em 12 meses houve um crescimento acumulado de 1,2%, mas o impulso claramente se esgotou na primeira metade deste ano. Além disso, também a importação de bens de capital tem diminuído. Até julho, foi 6% menor que nos mesmos sete meses de 2013.
No primeiro trimestre o total investido pelo governo e pelo setor privado ficou em 17,7% do PIB. A proporção estava em 19,5% nos primeiros três meses de 2o11, no começo do governo de Dilma Rousseff. Caiu a partir daí. Também caiu nesse período a taxa de poupança, de 17% para 12,7%, no período de janeiro a março deste ano. A redução da taxa de poupança resultou principalmente do desarranjo das contas públicas.
A diferença em relação ao investimento bruto foi coberta por uma proporção crescente de capitais estrangeiros. Esses capitais também ajudaram no fechamento das contas externas. Foram necessários para cobrir o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. O quadro seria menos grave se o déficit houvesse resultado de uma grande expansão de investimentos. Nesse caso, a piora da conta corrente estaria associada a um fato positivo para o crescimento - a acumulação de capital na forma de máquinas, equipamentos, construções e obras de infraestrutura. Mas a história efetiva foi outra. O buraco em transações correntes decorreu muito mais do estímulo ao consumo - uma tendência insustentável - do que do esforço para investir. Em vez de construir, essa política compromete o futuro.
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