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Crise nos mercados sem rumo

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Por Redação
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Enquanto os mercados enfrentavam mais um dia de pânico em todo o mundo, o presidente Barack Obama enviava ao Congresso dos Estados Unidos seu novo plano de recuperação da economia - investimentos e benefícios fiscais no valor de US$ 447 bilhões, projetados para criar empregos, incentivar o consumo, reativar a indústria e tornar o país mais eficiente. Horas antes de encaminhar o projeto, ele fez um minicomício num dos jardins da Casa Branca, defendendo seu plano perante um grande grupo de professores, veteranos, donos de pequenos negócios e outros possíveis beneficiários dos incentivos propostos pelo governo. O presidente está empenhado em mobilizar apoio em todo o país para pressionar os congressistas e evitar o fracasso de mais essa iniciativa. Já na semana passada, líderes da oposição haviam prometido, em carta a Obama, examinar suas ideias com atenção. O site da Casa Branca registrava, até ontem à tarde, 53 manifestações de apoio ao projeto, com declarações de congressistas, governadores, prefeitos, grandes empresários, líderes de entidades empresariais e dirigentes de organizações sindicais, entre elas algumas das mais poderosas, como a United Steelworkers (do setor siderúrgico) e a AFL-CIO, a mais conhecida e mais tradicional central trabalhista do país. A negociação do projeto com os congressistas deverá ser complicada, mas a ampla mobilização de apoio pode ser um grande trunfo para o governo. De toda forma, a iniciativa de Obama foi o esforço mais importante e mais promissor, em vários meses, para impedir o agravamento da crise no mundo rico. Enquanto o presidente americano fazia seu minicomício na Casa Branca, as bolsas europeias iam ladeira abaixo, acompanhando as da Ásia, e mais uma jornada tensa começava em Nova York. O fim de semana havia passado sem se confirmar o rumor de um calote grego. Mas os mercados voltaram a funcionar, na segunda-feira, como se houvesse pouca dúvida quanto ao risco de um desastre iminente. Ações de bancos franceses, com carteiras cheias de títulos da Grécia e de outros países altamente endividados, despencaram. No domingo o governo grego havia anunciado um novo imposto sobre imóveis, para conter o crescente déficit público, mas a notícia produziu pouco ou nenhum efeito. Deu-se mais atenção, nos mercados, a um artigo do ministro da Economia da Alemanha, Philipp Roesler, publicado no jornal Die Welt. "Para estabilizar o euro, não pode haver pensamentos proibidos no curto prazo, e isso inclui, se necessário, uma insolvência ordenada da Grécia, se os instrumentos necessários estiverem disponíveis", afirmou o ministro. Jamais uma autoridade europeia falara com tanta clareza sobre a possibilidade de um calote grego. Já se havia proposto uma renegociação com os bancos, até agora sem muito sucesso, mas a frase do ministro alemão aponta para uma solução mais ampla e politicamente mais difícil. No entanto, esse talvez seja o caminho mais seguro e menos custoso para uma solução eficiente do problema grego. Uma nova missão de representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE) deve ir a Atenas provavelmente nesta quarta-feira. O novo imposto anunciado pelo governo pode funcionar como a senha para a liberação de nova fatia da ajuda prometida à Grécia. Isso poderá resolver dificuldades imediatas, mas a estabilização da economia grega é um desafio imensamente mais complicado. Uma reestruturação coordenada, com perdas planejadas e adequadamente distribuídas, pode ser, afinal, o melhor, se não o único, meio de equacionar o problema, definir com clareza os custos e afastar de uma vez o risco de contágio. Uma solução desse tipo requer, no entanto, a ação de um político dotado de capacidade excepcional de liderança. Parece haver no mundo rico, neste momento, uma grave escassez de políticos dessa envergadura. O fiasco da reunião de ministros do Grupo dos 7 (G-7), no fim de semana, apenas confirmou a incapacidade dos governos de promover ações articuladas contra a crise.