
04 de fevereiro de 2012 | 03h06
Toda a encenação em torno da substituição de Negromonte - a mais enrolada dentre todas as que, em 13 meses, resultaram na demissão de sete ministros por denúncias de irregularidades - evidencia mais uma vez o dilema e a consequente hesitação de Dilma, sempre que precisa se livrar de colaboradores indesejados. A demissão de Negromonte era previsível desde o fim do ano passado, quando a pasta das Cidades foi objeto de denúncias de graves irregularidades relativas a obras para a Copa do Mundo, em Cuiabá, e de relações promíscuas com lobistas. Além disso, Dilma já vinha confidenciando, a muitos interlocutores, que considerava Negromonte um mau gestor. Depois disso, mandou demitir o chefe de gabinete e o chefe da Assessoria Parlamentar do ministro. Na segunda-feira passada, em Salvador, antes de viajar para o Caribe, a presidente deixou claro que a fritura do ministro teria o seu desfecho tão longo retornasse a Brasília.
Um processo tão tortuoso permite supor que, descartada a hipótese de que Dilma tenha prazer em prolongar a agonia dos condenados à guilhotina, o processo de tomada de decisões que envolvem interesses políticos de aliados não deixa à vontade uma chefe de governo tida e havida como enérgica e decidida. O que leva ao paradoxo de ela, na verdade, tornar-se refém, em vez de comandante, da tão enaltecida aliança hegemônica arquitetada pelo lulopetismo. É claro que qualquer aliança política se apoia numa complexa e delicada dinâmica de acordos em torno de interesses pontuais. Mas tudo leva a crer que, sem a incontrastável autoridade política de Lula, o Palácio do Planalto enfrenta sérias dificuldades para equilibrar esses acordos, inclusive para votar matérias do seu interesse no Congresso.
Esse enredo ajuda a compreender, por exemplo, a razão pela qual os ministros Fernando Bezerra, do PSB, e Fernando Pimentel, do PT, apesar de tão enrolados em denúncias e evidências de malfeitos quanto seus colegas que foram defenestrados, permanecem impávidos à frente de suas pastas. Do ponto de vista do governo, o PSB de Bezerra, presidido pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é peça-chave no xadrez eleitoral que começa a ser jogado este ano para desaguar no pleito presidencial de 2014. O mesmo se poderia dizer a respeito do PMDB, que já teve dois ministros demitidos. Mas Michel Temer e seu enorme partido são "do ramo" e estão habituados a assimilar com tranquilidade golpes que a eles não fazem mossa, mas pegariam muito mal para a imagem do PSB, que pretende se apresentar como uma nova e imaculada opção para o eleitor.
No caso de Fernando Pimentel, importante líder petista mineiro, acusado de vacilos do mesmo gênero daqueles que custaram o cargo a Antonio Palocci, devem estar contando a favor de sua permanência à frente do Ministério do Desenvolvimento os interesses do PT em Minas Gerais, um Estado de enorme importância eleitoral.
De qualquer modo, da mesma forma que não houve a tal reforma ministerial, nada garante que a temporada de faxina - expressão que a presidente detesta - no primeiro escalão tenha terminado.
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